06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

final. Outra pedia <strong>que</strong> abandonássemos imediatamente o local para evitar o pior, <strong>que</strong><br />

seria a prisão de muitos companheiros. É importante esclarecer <strong>que</strong> o Companheiro José<br />

Campos Barreto, <strong>que</strong> em 1971 viria a morrer juntamente com o Capitão Lamarca na<br />

Bahia, tinha sido preso no dia anterior, na ocasião da desocupação da Cobrasma e estava<br />

sendo torturado. O conhecimento desse fato tornava ainda maior a tensão. A terceira<br />

proposição, <strong>que</strong> defendi, chamei de “resistência passiva”: faríamos uma “parede humana”<br />

e tentaríamos impedir a entrada de policiais, sem partirmos para a violência, porém<br />

gritando contra a truculência policial. Eu tinha claro, mesmo já sendo militante da<br />

Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), <strong>que</strong> uma resistência ativa, como <strong>que</strong>ria o<br />

companheiro trotskista, poderia levar à morte de Companheiros. Entretanto, não admitia<br />

<strong>que</strong> abandonássemos o posto de batalha, antes mesmo <strong>que</strong> ela começasse de verdade.<br />

Minha proposta foi amplamente vencedora. Decidimos também <strong>que</strong>, se o Sindicato fosse<br />

realmente ocupado pela repressão, nos reuniríamos na manhã seguinte, às sete horas, na<br />

Igreja Matriz de Osasco, para continuarmos organizando e conduzindo a greve.<br />

Bom. Os policiais chegaram e, após uma longa discussão, invadiram o Sindicato e<br />

prenderam vários companheiros. Eu, felizmente, consegui escapar pelos fundos.<br />

Como tínhamos combinado, às sete horas da manhã seguinte estava na Igreja. Os padres<br />

<strong>que</strong> nos apoiavam tinham preparado uma sala <strong>que</strong> ficava nos fundos da Igreja, no<br />

primeiro andar, para a nossa reunião. Comecei a conversar com os operários <strong>que</strong> já<br />

tinham chegado e, conforme outros iam chegando, os Padres informavam onde<br />

estávamos reunidos. De repente, uma velhinha de mais de 70 anos, <strong>que</strong> era cozinheira<br />

dos padres, sobe a escada correndo, chega esbaforida e avisa: “Tem algum comunista aí?<br />

Tem algum comunista aí? Se tem, foge por<strong>que</strong> a polícia está aí dizendo <strong>que</strong> vai prender<br />

todos os comunistas”. Estava claro <strong>que</strong> se referiam a todos nós. Na<strong>que</strong>la época, <strong>que</strong>m<br />

ousava desrespeitar a “ordem” era considerado comunista.<br />

Pedi para o pessoal sentar no chão e manter a calma <strong>que</strong> eu iria ver se tinha alguma<br />

alternativa de fuga. Saí correndo e fui ver como estava o muro dos fundos da Igreja.<br />

Constatei <strong>que</strong> estava tudo cercado, não tínhamos alternativa de fuga. Todos seríamos<br />

presos.<br />

Quando voltava para dizer isso aos companheiros, vi <strong>que</strong> alguns policiais dirigiam-se ao<br />

local onde estávamos reunidos. Então, percebi <strong>que</strong> havia alguns pedreiros trabalhando<br />

em uma obra ao lado. Peguei alguns tijolos e tentei passar por ajudante de pedreiro. Não<br />

adiantou. Prenderam-me e me levaram para a sacristia, onde já se encontravam vários<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 393

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!