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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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alunos do colégio foram a uma passeata de protesto, no centro de Osasco, contra o<br />

assassinato do estudante Edson Luiz, no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro.<br />

Conseguimos levar quase todos os alunos à<strong>que</strong>la passeata <strong>que</strong> reuniu aproximadamente<br />

dois mil alunos, o <strong>que</strong> em Osasco, na época, constituía uma grande façanha.<br />

Quando o ano de 19<strong>68</strong> terminou, continuei na mesma escola, mas Regina foi lecionar na<br />

Vila Leopoldina, bairro de São Paulo. José Domingues continuava sendo meu aluno.<br />

Ainda estávamos no início do ano escolar, talvez no mês de março, não me lembro bem,<br />

quando notei a ausência do José em minhas aulas. Uma noite, ele veio me procurar. Não<br />

trouxera nem livros nem cadernos. Perguntei se ele tinha saído do colégio e ele me disse<br />

<strong>que</strong> precisava falar comigo, mas <strong>que</strong> não poderia ser ali na escola. Saímos na hora do<br />

intervalo e ele me contou: seus dois irmãos, Ro<strong>que</strong> Aparecido e João Domingues da Silva<br />

estavam envolvidos não apenas no movimento estudantil, mas também na luta armada.<br />

No dia anterior a polícia tinha ido à casa dele procurar os irmãos. Tinham revistado toda<br />

a casa e levado presos seu pai, sua irmã Iracema, seu cunhado, e embora o desenho da<br />

Regina estivesse no fundo de uma gaveta, coberto por uma folha de papel, a polícia o<br />

encontrou e <strong>que</strong>ria saber <strong>que</strong>m era a Regina e <strong>que</strong> envolvimento ela teria com os irmãos<br />

dele. Pediu-me <strong>que</strong> a avisasse, por<strong>que</strong> sabia <strong>que</strong> eles iriam procurá-la.<br />

Não deu tempo de avisar a minha amiga para desaparecer. Na<strong>que</strong>la mesma noite um<br />

camburão do DOPS parou no pátio do colégio. Dele desceram três policiais e se dirigiram<br />

à diretoria. <strong>Queria</strong>m falar com a Regina, professora de desenho.<br />

O diretor suspendeu imediatamente as aulas e nos mandou ficar fechados na sala dos<br />

professores enquanto ele atendia aos agentes. Lembro-me como se fosse hoje: todo<br />

mundo ficou agitado. Só se via gente abrindo os armários onde se guardavam os diários<br />

de classe, livros etc. tirando papéis e destruindo. Um professor muito engraçado tirava<br />

uma porção de papéis da UNE, rasgava e dizia <strong>que</strong> estava com cólica menstrual. Eu não<br />

conseguia parar de rir. Acesso <strong>que</strong> me dá sempre <strong>que</strong> estou muito nervosa.<br />

O diretor informou <strong>que</strong> Regina não lecionava mais ali. Eles quiseram o endereço dela e o<br />

diretor disse <strong>que</strong> não tinha. Então <strong>que</strong>riam falar com a professora de português, <strong>que</strong> era<br />

eu, contato dela. O diretor pediu o livro de ponto e como, para sorte minha, fre<strong>que</strong>ntemente<br />

eu me es<strong>que</strong>cia de assinar, quando eles procuraram minha assinatura e não a encontraram,<br />

acreditaram <strong>que</strong> eu tinha faltado. Exigiram <strong>que</strong> o diretor localizasse o endereço da<br />

Regina, pois se ela fora professora na<strong>que</strong>la escola, deveria haver algum registro de sua<br />

residência. Com a insistência deles, o diretor passou o endereço. Verificando melhor o<br />

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