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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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direito de escutar novamente a crise de histeria da mulher da fita. Já <strong>que</strong> a ditadura não<br />

nos conferia direitos, nós mesmos os inventávamos ali dentro da<strong>que</strong>le fusca e<br />

alimentávamo-nos do prazer <strong>que</strong> tirávamos de estar uns com os outros. Eu, Rogério,<br />

Joaquim, Celina, Tânia, Vinícius, Fernando, Magda.<br />

1969... Em 4 de novembro morreu Carlos Marighela. Assassinado pela ditadura em uma<br />

tocaia nas ruas de São Paulo. Nosso sonho morreu com ele, mas não <strong>que</strong>ríamos admitir.<br />

Nosso fim estava próximo como o final da<strong>que</strong>le ano. Em dezembro começamos a ocupar<br />

as salas de tortura do DOI-CODI e a mim me tocou o mês seguinte.<br />

1969... Muitos sonhos e muitas ilusões. Muitas amarguras e desilusões. Muita luta, muita<br />

garra. Ano sinistro. Ano lindo. Ano do medo. Mas ano muito cheio de amor.<br />

16.12 o dia eM Que o CHe Foi enContrado eM osasCo<br />

Risomar Fasanaro<br />

384<br />

À memória de José Domingues da Silva<br />

Em 19<strong>68</strong>, o governo do Estado abriu um grande número de salas de aulas para o curso<br />

ginasial e colegial no período noturno, no mesmo prédio onde, durante o dia, funcionava<br />

o <strong>que</strong>, na época, se chamava curso primário. Havia uma grande carência de professores<br />

licenciados e, por isso, a maioria dos <strong>que</strong> lecionava nessas escolas eram estudantes. Entre<br />

eles, eu estava lecionando no 2º Ginásio Estadual de Osasco.<br />

O prédio ficava em frente ao 4º RI (Regimento de Infantaria) e muitos dos nossos alunos<br />

eram soldados, cabos e sargentos <strong>que</strong> serviam na<strong>que</strong>la corporação. Uma das salas de<br />

aulas era formada, exclusivamente, por militares, o <strong>que</strong> nos causava grande<br />

constrangimento, pois tínhamos de tomar muito cuidado com o <strong>que</strong> dizíamos, para não<br />

sermos mal interpretados. A<strong>que</strong>la era uma sala atípica. De vez em quando, oito e, às<br />

vezes, dez alunos faltavam durante dez, quinze dias. Eu perguntava pelos ausentes e<br />

notava <strong>que</strong> alguns riam quando informavam: eles foram em uma missão para Goiás,<br />

professora. Eu não entendia por <strong>que</strong> riam. Os jornais não noticiavam o <strong>que</strong> estava<br />

acontecendo no Araguaia, só mais tarde viemos a saber.

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