06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Finalmente, em março de 1980, voltamos para o Rio. Era necessário recomeçar minha<br />

vida mais uma vez. Meu diploma universitário estava no nome de outra pessoa e Igor<br />

cursava a sétima série do primeiro grau com outro nome. Após dois anos, de intensa<br />

batalha jurídica, tal situação foi resolvida, consegui revalidar meu diploma e a situação<br />

escolar do meu filho. Recuperamos nossa identidade.<br />

16.11 1969<br />

382<br />

Dalva Bonet<br />

1969? Lembro-me como se fora ontem, embora já se tenham passado trinta anos. 19<strong>68</strong><br />

acabara mal. Protestamos, resistimos e a ditadura nos entubou com o AI-5 no último mês<br />

da<strong>que</strong>le ano fatídico. Como se não bastara, conseguiram prender-me pela primeira vez<br />

quatro dias depois de o país mergulhar na mais sombria ditadura.<br />

1969... Passara o Natal e o Ano Novo na<strong>que</strong>la prisão fétida da Rua da Relação, rés do<br />

chão para o DOPS. Em janeiro, conseguira escapar devido a um cochilo da ditadura e a<br />

relações familiares. As gloriosas Forças Armadas d’antanho enfureceram-se quando<br />

descobriram a trama, mas era tarde: eu já estava na estrada.<br />

1969... E o porquê de tudo isto? Por <strong>que</strong> lutava por liberdades democráticas? Por <strong>que</strong><br />

condenara a supressão do habeas corpus? 1969 começou sombrio, nervoso, cheio de<br />

incertezas. O Exército invadiu a Faculdade de Direito onde eu estudava, por duas vezes,<br />

à minha procura. Minha turma seria formanda na<strong>que</strong>le ano. Mas eu estava impedida de<br />

voltar. Estivera estudando para o Instituto Rio Branco antes de ser presa. Sempre quis ser<br />

diplomata e resolver pacificamente os conflitos políticos. 1969 não deixou. A ditadura<br />

não deixou.<br />

1969... Foi muito difícil no início. Minha vida mudara completamente. Agora estava<br />

tangida a ferro e a luta na clandestinidade apenas me apontava dois caminhos: matar ou<br />

morrer. Era estranho, eu já não pertencia mais ao Comitê Universitário do PCBR por<strong>que</strong><br />

já não era mais universitária. Mas me sentia e me percebia como tal. Sempre <strong>que</strong>ria<br />

notícias da minha turma. Ah, a minha turma!... Eternos companheiros. Até hoje os<br />

encontro, apesar de a ditadura ter-se colocado entre nós.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!