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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Sentíamo-nos, como alguns habitantes da<strong>que</strong>le local, marginalizados, perseguidos e<br />

inteiramente impotentes.<br />

O Lincoln aproveitou para guardar vasto material comprometedor no sótão, pertencente<br />

ao condomínio do prédio, mas <strong>que</strong> só era alcançado através do nosso apartamento. Ali<br />

se encontravam carteiras de identidade e passaportes a serem preenchidos, munição e<br />

materiais de propaganda, além de panfletos e manifestos.<br />

Toda a<strong>que</strong>la situação se tornou insuportável para mim. Temia demais pela vida da Tatiana.<br />

Cada vez <strong>que</strong> batiam na porta, era um grande sobressalto. A Tatiana ficava quietinha,<br />

como se estivesse compreendendo <strong>que</strong> era importante ajudar.<br />

A vida já estava insuportável. Mudava infinitas vezes de ônibus para ir e voltar do<br />

trabalho, para ter a certeza de não estar sendo seguida. Muito medo, o cerco se fechando,<br />

muitos companheiros caindo. A situação de estresse chegou a tal ponto <strong>que</strong> comecei a<br />

não conseguir mais dormir, fi<strong>que</strong>i muito doente e fui me tratar no Instituto de Psiquiatria,<br />

além de fazer psicanálise.<br />

Acabaram descobrindo nosso “aparelho” e, mais uma vez, avisados por vizinhos,<br />

abandonamos, sem sermos presos, a terceira casa.<br />

A essa altura, colocou-se um impasse. Ou nós (eu, Tatiana e Lincoln) íamos para a<br />

Guerrilha do Araguaia, ou, por medida de segurança, teríamos (eu e Lincoln) <strong>que</strong> nos<br />

separar. A situação dele estava cada vez mais complicada. Foram em vão todos os meus<br />

pedidos para <strong>que</strong> tentássemos sair do país, os três.<br />

Em novembro de 1972, começa uma caçada implacável, com o objetivo de me prender<br />

para localizar e prender o Lincoln. Uma perseguição nas escolas em <strong>que</strong> eu trabalhava,<br />

nos bancos em <strong>que</strong> tinha conta, enfim, em todos os lugares em <strong>que</strong> pudesse estar ou<br />

passar. Num arroubo de loucura, resolvi me entregar. Antes disso, procurei um advogado,<br />

militante bem conhecido na es<strong>que</strong>rda, meio parente, e contei minha situação. Ele ficou<br />

de tentar saber o órgão <strong>que</strong> estava me procurando e, por sorte, conseguiu. Descobriu<br />

<strong>que</strong>m era o milico responsável pelo meu IPM. Estava de mãos e pés atados e decidi me<br />

apresentar a ele, já sabendo <strong>que</strong> seria presa e torturada. Fui ao encontro deste chefe de<br />

IPM, acompanhada de minha mãe e de um amigo <strong>que</strong> se fez passar por meu novo<br />

marido. Final da história. Em vez de me prender, esse milico resolveu me colocar “um<br />

rabo”. Pessoas me seguindo dia e noite, <strong>que</strong> faziam plantão na porta da minha casa.<br />

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