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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Contratamos o advogado Evaristo de Morais para impetrar mandado de segurança. Nosso<br />

objetivo era manter nossos companheiros vivos. O sistema não podia mais negar as<br />

prisões.<br />

Um mês depois, procuramos no Ministério da Guerra, informações sobre o nosso fichário.<br />

O chefe do DOI-CODI era pernambucano e, por feliz ou infeliz coincidência, na mocidade,<br />

tinha sido amigo de farras do Samico. Ele lamentou o fato de o Samico estar no meio<br />

“dessa gente”, devolveu o arquivo e confirmou as prisões. Comprometeu-se a nos<br />

comunicar e permitir nossa visita quando “esses elementos forem para o DOPS”. Mesmo<br />

revoltados, ficamos felizes por nossos companheiros estarem vivos. Entretanto, como<br />

estariam eles?<br />

Dias depois recebemos, no CRM, a autorização para a visita. Conter nossa revolta não foi<br />

fácil. O Almir sofreu todo tipo de tortura física e psicológica, agressões por todo o corpo,<br />

afundamento do malar, osso da face, tendo perda total da audição. A Germana Figueiredo,<br />

com hematomas vistos nas partes desnudas, tinha sido violentada com instrumento<br />

penetrante e foi socorrida no HCE. A MJ, jovem pediatra residente <strong>que</strong> dava assistência<br />

aos filhos dos presos, era só revolta, com mamas e partes intimas apresentando<br />

<strong>que</strong>imadura com cho<strong>que</strong> elétrico. O João Cândido, em estado catatônico, não falava. O<br />

marido da residente, após ser solto, saltou do 8º andar de um edifício no Leblon.<br />

Os tiranos torturam a MJ na vista do marido e ele, na presença dela. A Germana, o João<br />

Cândido e a MJ ficaram vários meses presos, enquanto o Almir, já sabemos, saiu no grupo<br />

dos quarenta revolucionários trocados pelo embaixador alemão.<br />

O vice-presidente do Sindicato, Assad Mamere Adenur, era agente da ditadura militar e<br />

foi responsável pela denúncia de <strong>que</strong> o sindicato tinha contratado advogado para<br />

defender os subversivos. Fomos obrigados a devolver de nossos bolsos todo o valor pago.<br />

O Sindicato sofreu intervenção branca: um interventor do Ministério do Trabalho vigiava<br />

toda nossa atuação. Participamos da reeleição e recebemos lacônica mensagem: “os<br />

elementos citados estão impedidos, por motivo de segurança nacional, de tomar posse”.<br />

Designaram um interventor <strong>que</strong> transformou a instituição sindical em mais um<br />

instrumento da ditadura.<br />

Em seguida, também eleito conselheiro do CRM, por problema de segurança nacional, fui<br />

cassado. Por recomendação do SNI, fui demitido da chefia da clínica cardiológica onde<br />

trabalhava. Além disso, era médico do Estado e fui demitido pelo governo Faria Lima.<br />

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