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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Lamarca foi operado, sendo todo o es<strong>que</strong>ma montado pelo combatente Almir Dutton.<br />

Órgãos da repressão tomaram conhecimento da cirurgia e procuraram os responsáveis<br />

pelo procedimento. O anestesista entrou em pânico entregando-se. Pelos diabólicos<br />

meios de torturas, bravos companheiros cederam, heróis anônimos cuja história é hoje<br />

ignorada. Não podemos olvidar o Almir, a Germana Figueiredo, o João Cândido, a Maria<br />

José e outros.<br />

Mas a ira da repressão era voltada, principalmente, contra o Almir <strong>que</strong>, além de ser<br />

operário da resistência, era também um grande agregador e intelectual do movimento<br />

clandestino. As forças da repressão se aglutinavam no DOI-CODI e nós perdíamos,<br />

diariamente, militantes.<br />

Infelizmente, em determinada tarde, estava eu no CRMRJ na qualidade também de<br />

conselheiro, em companhia do Presidente do Conselho, Dr. Fernando Samico e de outras<br />

pessoas, quando quatro brutamontes invadiram o local. <strong>Queria</strong>m vistoriar o arquivo dos<br />

médicos e o presidente do Conselho solicitou o mandado judicial. Eles nos jogaram para<br />

os lados, abriram os paletós, exibiram as armas (revólveres 45) e responderam: “Aqui está<br />

o mandado judicial”. O presidente, então, alegou <strong>que</strong> era necessário convocar uma<br />

reunião urgente do corpo de conselheiros. Eles não aceitaram e, ameaçadores,<br />

responderam <strong>que</strong> a autorização estava na cintura.<br />

Reviraram os arquivos. Buscaram no fichário dos médicos em exercício e nada<br />

encontraram. Continuaram. “Doutor! O elemento <strong>que</strong> procuramos não está aqui”.<br />

Procuraram no arquivo dos médicos transferidos e não encontraram o elemento. “Estão<br />

escondendo alguma coisa?” Viram o arquivo dos conselheiros. “Doutor! O elemento é um<br />

conselheiro, vamos levar todo arquivo, para <strong>que</strong> o elemento não seja avisado”, disseram.<br />

“O elemento vai ser identificado e preso”. Na mesma ocasião, o anestesista estava com<br />

outros agentes esperando na Rua do Passeio para identificar o Almir. Não havia dúvida.<br />

Começamos procurar o Almir, sem sucesso (não havia telefonia celular).<br />

Logo cedo, no dia seguinte, o Almir era preso no local de trabalho (maternidade). Em<br />

seguida caíram outros e outros... Nossa missão era preservar a vida dos companheiros,<br />

com a nossa insistente busca em todos os locais. A trágica Rua Barão de Mesquita era<br />

nossa meta, além de outros órgãos de repressão. Sabíamos eu e o Samico o risco de nossa<br />

segurança: telefonemas anônimos, telefones grampeados e outros meios de terrorismo.<br />

Para eles, nós, soltos, valíamos mais, como certo tipo de isca.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 373

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