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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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órgãos de segurança solicitavam, diariamente, informações sobre o paradeiro de médicos<br />

supostamente inimigos do sistema. Pedidos <strong>que</strong> eram ignorados pelo sindicado.<br />

Com a edição do AI-5 e, posteriormente, com a era Médici, a repressão tomou vulto. O<br />

cerco aumentou, a tortura e os assassinatos intensificaram-se. Nossa resistência perdia<br />

adeptos. Diariamente, companheiros eram presos e ficavam fora de nosso contato,<br />

muitos dos quais até hoje desaparecidos. Na época, na qualidade de presidente do<br />

Sindicado dos Médicos, acompanhado pelo presidente do Conselho Regional de Medicina,<br />

Fernando Samico, realizávamos verdadeira romaria pelos órgãos de segurança com o<br />

intuito de procurar colegas desaparecidos. Recebíamos sempre a mesma informação<br />

após nossa identificação: “os elementos <strong>que</strong> vocês procuram não se encontram aqui...”<br />

Faço aqui uma referência especial, fora do contexto médico, a fato ocorrido com o<br />

companheiro jornalista e militante de Alagoas, Jaime Miranda, <strong>que</strong> nos anos 70,<br />

recentemente enfartado, foi abrigado pelo nosso companheiro, também alagoano<br />

Hermann Baeta. Todos sabiam <strong>que</strong> a polícia perseguia o jornalista. Mesmo gravemente<br />

doente, Jaime Miranda foi preso e até hoje continua desaparecido.<br />

O companheiro Carlos Lamarca, entre outros procurados vivos ou mortos, necessitava,<br />

para continuar a resistência, fazer uma cirurgia plástica. O saudoso companheiro Almir<br />

Dutton, brilhante conselheiro do CRMRJ e Secretário Geral da Sociedade de Medicina e<br />

Cirurgia do Rio de Janeiro, em memoráveis debates, exigia mais empenho nosso contra o<br />

regime militar, muitas vezes, até, enfatizando <strong>que</strong> a ditadura estava no fim, <strong>que</strong> era<br />

<strong>que</strong>stão de tempo.<br />

Topamos a proposta da cirurgia como uma etapa a mais para avançar na luta contra o<br />

regime. A cirurgia foi bem sucedida, mas o es<strong>que</strong>ma de segurança no recrutamento dos<br />

profissionais, falho. Colegas foram presos e torturados, muitos sem qual<strong>que</strong>r envolvimento<br />

com a nossa luta, apenas pelo fato de constar, nas agendas de outros detidos, seus nomes<br />

e telefone de interesse profissional. Quando libertados, recebiam abono de suas faltas ao<br />

trabalho, por terem prestando relevantes serviços ao país. O José Ribamar, por exemplo,<br />

ficou preso e foi torturado na Ilha das Cobras, durante 58 dias. Na saída, como era<br />

médico do INAMPS e teria <strong>que</strong> justificar a ausência, recebeu um atestado onde constava:<br />

“O Dr. José Ribamar de Brito, esteve durante 58 dias, prestando excelente serviço à<br />

Marinha de Guerra Brasileira”. Vejam <strong>que</strong> ironia.<br />

Após a cirurgia do Capitão Lamarca e o crescimento da repressão, crescia, também, a<br />

nossa revolta. O cerco apertava, o governo Médici não prendia, MATAVA.<br />

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