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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Nossa organização sindical deu um salto político excelente, passou a ter credibilidade<br />

política e administrativa e somou-se a um trabalho conjugado com o Conselho Regional<br />

de Medicina do Rio de Janeiro e da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro,<br />

também sob nosso controle político. Abrimos alguns sindicatos inativos e criamos outros,<br />

além da fundação da Federação Nacional de Medicina, impedida pela ditadura militar de<br />

receber a carta sindical.<br />

Em oposição à ditadura, escolhemos, como foco principal de luta, o combate ao Plano<br />

Nacional de Saúde, do Ministro Leonel Miranda, <strong>que</strong> transferia todos os serviços e<br />

unidades de saúde estatal para os interesses mercantilistas, pelo preço histórico.<br />

Recrutamos vários colegas para o trabalho sindical, mas a edição do AI-5 afastou grande<br />

parte dos trabalhadores da saúde. Mesmo assim, conseguimos manter o programa<br />

corporativo e, na clandestinidade, a participação política. Mantivemos pe<strong>que</strong>nos núcleos,<br />

em especial no Hospital Geral de Bonsucesso e no Hospital dos Servidores, base política<br />

de Roberto Chabo, Germana Figueiredo, João Cândido, João Fausto Canduru, Edson de<br />

Almeida, Nunjo Finkel, Maria José Petrucele e muitos outros anônimos, com o apoio<br />

político do Sindicato dos Médicos. O contato com os grupos da resistência era feito por<br />

intermédio do saudoso Almir Dutton.<br />

Meu trabalho, na qualidade de Presidente do Sindicato dos Médicos, consistia em manter<br />

a entidade aberta e, assim, garantir um veículo de comunicação com a categoria <strong>que</strong><br />

procurava, no sindicato, ajuda econômica e meios de sair do país, médicos ou não, desde<br />

<strong>que</strong> ameaçados pelo regime. Para driblar o sistema, eu tinha endereços em Copacabana,<br />

Botafogo e Flamengo, além de realizar pe<strong>que</strong>nas fugas temporárias para São Paulo, Belo<br />

Horizonte e Brasília. Os médicos <strong>que</strong> eram presos por qual<strong>que</strong>r motivo, recebiam<br />

assistência do sindicato, forma de manter a mesma prática com os presos políticos.<br />

O Almir Dutton, com sua alma guerreira, <strong>que</strong>ria mais e trabalhava no aliciamento para<br />

engrossar a resistência na clandestinidade. Atendíamos perseguidos políticos e seus<br />

familiares, todos no anonimato. Nossas reuniões clandestinas eram itinerantes,<br />

realizavam-se no sindicato ou em algum local <strong>que</strong> preservasse certa segurança.<br />

Nos hospitais de grande porte, era comum aparecerem figuras estranhas fazendo<br />

internato ou residência médica. Na verdade, eram agentes do regime militar. Colegas<br />

eram detidos por motivos ignorados, mesmo <strong>que</strong> fossem simpatizantes do regime. Os<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 371

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