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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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pressão e perguntou se eu era cardíaca. Ou seja, preparava-me para a tortura... para <strong>que</strong><br />

esta pudesse ser mais eficaz... Geralmente, eram as mulheres <strong>que</strong> recebiam essa “visita”,<br />

com o objetivo de terem suas resistências avaliadas para <strong>que</strong> a repressão pudesse saber<br />

até <strong>que</strong> ponto poderiam aguentar as torturas, sem atrapalhar as informações <strong>que</strong><br />

precisavam tirar delas. Colocaram-me nua e aconteceram as primeiras sevicias... Os<br />

guardas <strong>que</strong> me levaram, fre<strong>que</strong>ntemente encapuzada, perceberam minha fragilidade...<br />

constantemente, praticavam vários abusos sexuais... Os cho<strong>que</strong>s elétricos no meu corpo<br />

nu e molhado eram cada vez mais intensos... E, eu me sentia desintegrar: a bexiga e os<br />

esfíncteres sem nenhum controle...<br />

- Isso não pode estar acontecendo: é um pesadelo... Eu não estou aqui... - pensava eu. O<br />

filhote de jacaré com sua pele gelada e pegajosa percorrendo meu corpo... E se me<br />

colocam a cobra, como estão gritando <strong>que</strong> farão?...<br />

Perdi os sentidos, desmaiei...<br />

Amilcar Lobo era médico, fazia formação psicanalítica e assessorou os torturadores no<br />

DOI-CODI/RJ no período de 1970 a 1974. Seu trabalho consistia em “atender” aos presos<br />

políticos antes, durante e depois das torturas. Com o codinome de Dr. Carneiro, ele<br />

“acompanhava” as torturas, fazia parte do terror <strong>que</strong> se abatia sobre o país e era peça<br />

eficaz em sua engrenagem. Em 1988, teve seu registro de médico cassado pelo Conselho<br />

Regional de Medicina do Rio de Janeiro, ato <strong>que</strong> foi referendado, posteriormente, pelo<br />

Conselho Federal.<br />

Em outros momentos, fui levada para junto de meu companheiro quando ele estava<br />

sendo torturado... Seus gritos me acompanhavam durante dias, semanas, meses, anos...<br />

Era muito comum esta tática quando algum casal era preso, além de se tentar jogar um<br />

contra o outro em função de informações <strong>que</strong>, supostamente, algum deles teria passado<br />

para os torturadores...<br />

- Será mesmo <strong>que</strong> ele falou isso?...<br />

Era necessário um esforço muito grande para <strong>que</strong> não sucumbíssemos...<br />

- Se falou está louco!... - era o meu argumento, repetido à exaustão.<br />

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