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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Ao chegar do trabalho à noite, Vadinho, nosso companheiro residente no povoado ao pé<br />

da serra, em Conceição do Jacareí, foi surpreendido por algumas anotações de sua<br />

mulher. Ela ouviu, pelo rádio, notícia sobre prisões durante uma tentativa fracassada de<br />

assalto a uma agência bancária em um subúrbio do Rio. Anotou os nomes dos presos.<br />

Com incertezas, mas preocupado, muito cedo ele foi ao nosso encontro. Relatou o <strong>que</strong><br />

sabia e, pelos nomes escritos no bilhete da mulher, logo se confirmaria <strong>que</strong> os presos<br />

eram militantes do MAR (Movimento de Ação Revolucionária). Não tínhamos maiores<br />

elementos para medir a dimensão do desastre, mas não restavam dúvidas: José Duarte e<br />

André Borges estavam em mãos inimigas. Também não havia como duvidar quanto aos<br />

horrores a <strong>que</strong> estavam sendo submetidos. Uma reunião de emergência foi realizada para<br />

<strong>que</strong> medidas rápidas fossem tomadas. No momento em <strong>que</strong> Vadinho chegou ao<br />

acampamento, a sentinela do horário era Adeildo, ensopado até a alma pela chuva fina<br />

<strong>que</strong> caía sobre nós na<strong>que</strong>la semana.<br />

Havia algo a ser resolvido: o encontro campo-cidade marcado há algum tempo, do qual<br />

dependíamos para receber mantimentos <strong>que</strong> já escasseavam, remédios, armas e até nosso<br />

rádio, levado anteriormente para reparo. Avaliamos o quadro naquilo <strong>que</strong> nos era possível<br />

e decidimos <strong>que</strong> Vadinho deveria retornar ao povoado para buscar abrigo seguro para<br />

sua família até <strong>que</strong> as sombras se desfizessem. Deveria também – e sobretudo - ficar<br />

atento quanto a movimentos suspeitos. Neste caso, retornaria imediatamente para nos<br />

avisar; se tudo normal, voltaria às 17h para nos ajudar em algumas atividades <strong>que</strong><br />

julgávamos necessárias.<br />

Acreditávamos <strong>que</strong>, com a gravidade dos acontecimentos, o sonhado contato campocidade<br />

seria antecipado pelo pessoal da infra-estrutura. Apenas não sabíamos <strong>que</strong> a<strong>que</strong>le<br />

seria o setor da organização drástica e imediatamente atingido pela incursão inimiga.<br />

Mais <strong>que</strong> atingido, pura e simplesmente destruído. Mas essa informação não tínhamos<br />

como receber.<br />

Por essa desinformação, tomamos uma decisão: dividir o grupo em dois: Marco Antônio,<br />

Antônio Duarte e eu ficaríamos na expectativa da possível chegada dos companheiros da<br />

cidade para <strong>que</strong> nossas necessidades fossem atendidas e novos planos fossem traçados.<br />

Os demais, sob o comando de Capitani, avançariam para zona de segurança préestabelecida,<br />

já estudada. No mínimo a cinco horas de marcha forçada de onde estávamos<br />

e o terreno, sob o aspecto topográfico, nos favorecia. Suprimentos alimentares e<br />

munições redistribuídos, acenos de boa sorte, o grupo partiu. Nele, José Adeildo.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - lUTa arMaDa 345

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