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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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15.14 nossa luta<br />

344<br />

Pedro Viegas<br />

José Adeildo Ramos figura em minhas lembranças como um dos maiores companheiros<br />

combatentes <strong>que</strong> conheci. Com ele enfrentei, juntamente com Capitani, Marco Antônio,<br />

Antônio Duarte e tantos mais, tempestades das maiores. Nossas incursões para abrir<br />

caminhos alternativos nas florestas pelas bandas de Angra dos Reis não foram fáceis.<br />

Com Capitani, fizemos uma caminhada de onze dias, buscando descobrir localidades e<br />

fazer um mapa em direção ao interior do continente. Abrir picadas em mata cerrada é<br />

trabalho árduo. Além dos calos nas mãos e sem contar o cansaço, sobram rasgos pelo<br />

rosto, braços e corpo inteiro. Adeildo iria destacar-se nessa tarefa, justificando sua fibra<br />

paraibana. Explico.<br />

Quando realizamos a Operação Liberdade e nove companheiros presos na Penitenciária<br />

Lemos de Brito foram libertados, entre eles Adeildo, dispúnhamos de uma área para<br />

refúgio. Analistas apressados – e muito críticos, por sinal – entenderam <strong>que</strong> havíamos<br />

adotado o local para implantação de um foco guerrilheiro. Falso. Como militares,<br />

tínhamos clara a vulnerabilidade da região, pois, próxima à costa, ficava facilmente<br />

sujeita a ata<strong>que</strong>s por meio de desembar<strong>que</strong>s relâmpagos dos fuzileiros navais, uma de<br />

suas especialidades. E essa vulnerabilidade não findava aí: tropas poderiam ser<br />

movimentadas no sentido inverso, empurrando-nos para o mar, o <strong>que</strong> nos seria fatal.<br />

Serviria, então, como área para descanso e, num primeiro momento, para <strong>que</strong> fôssemos<br />

“es<strong>que</strong>cidos” ou <strong>que</strong> ao menos a repercussão da<strong>que</strong>la ação e conse<strong>que</strong>nte perseguição<br />

atenuassem. Mas não poderíamos ficar parados. Conhecer a região nos era fundamental<br />

e nos interiorizar, mais ainda. Daí as incursões persistentes, em todas as direções.<br />

Eis <strong>que</strong> houve uma <strong>que</strong>da na cidade quando tínhamos o <strong>que</strong> seria o último encontro<br />

cidade-campo na<strong>que</strong>le lugar, previsto para um ou dois dias depois. Já tínhamos<br />

estabelecido um “ponto” bem mais adiante, mais internado, para esses contatos. Ali<br />

ficaria reservado como porta de ingresso e estágio inicial para novos recrutados<br />

(ambientação, e não para treinamento, por<strong>que</strong> próximo havia um sítio de um coronel).<br />

Toda a<strong>que</strong>la perspectiva seria frustrada pela mencionada <strong>que</strong>da e seus efeitos.<br />

Infelizmente, a repressão pôde obter referências de nossa localização.

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