06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Assim fizemos e o professor nos sugeriu usar o som do grêmio, <strong>que</strong> se encontrava acéfalo.<br />

Deu-nos as chaves e nos apresentou a um casal apenas tocando no ombro deles. Eram o<br />

Eiraldo e outra menina cujo nome es<strong>que</strong>ci.<br />

Nós faríamos a manifestação convidando para a missa de 7º dia do Edson Luiz e ele<br />

deixaria seus inspetores de sobreaviso para <strong>que</strong> não interferissem. Primeiro, comunicariam<br />

a ele qual<strong>que</strong>r movimentação “estranha”. Ele demoraria a entender o <strong>que</strong> estava<br />

acontecendo e seguiria devagar para o pátio. Nós nos comprometemos a dispersar assim<br />

<strong>que</strong> ele chegasse. Depois, mais lentamente ainda, ele voltaria ao seu gabinete e<br />

comunicaria o fato aos agentes do DOPS <strong>que</strong> o haviam procurado. Ele estava intimado a<br />

comunicar fatos desse tipo e delatar os responsáveis.<br />

Tudo aconteceu conforme o combinado e o fato repercutiu nos outros turnos, levando o<br />

diretor geral da Escola, ele próprio, a marcar a missa na Matriz de Niterói. A escola lotou<br />

a igreja a ponto de não haver lugar para a maioria <strong>que</strong>, do lado de fora, se manifestava<br />

com veemência contra a política assassina da repressão no Estado da Guanabara.<br />

Depois desse episódio, Eiraldo passou a ser um grande apoiador anônimo dos diversos<br />

movimentos <strong>que</strong> fazíamos. Estávamos juntos nas passeatas, nas pichações, nas divulgações<br />

de outros movimentos e até de boatos <strong>que</strong> inventávamos para desgastar a imagem da<br />

milicada. Para os mais íntimos, Eiraldo era também um intelectual, estudioso do marxismo<br />

e fervoroso defensor do socialismo.<br />

19<strong>68</strong> passou. Ibiúna passou. Os companheiros de Niterói quase todos presos em 69 e<br />

Eiraldo conosco. Foi preso em um se<strong>que</strong>stro de avião quando tentava trocar os passageiros<br />

e a tripulação por presos políticos (quase todos de Niterói).<br />

No ato da prisão, Eiraldo foi ferido pelas costas. A Aeronáutica anunciou <strong>que</strong> ele havia<br />

tentado suicídio. Ao invés de levá-lo para o Hospital da Aeronáutica para ser socorrido,<br />

na realidade, foi levado ferido para a Polícia do Exército da Rua Barão de Mesquita, para<br />

o DOI-CODI, onde foi “interrogado” até a morte sem ter sido se<strong>que</strong>r medicado.<br />

Eiraldo foi enterrado como suicida. Entretanto, mais tarde, o Estado reconheceu o<br />

homicídio e, inclusive, pagou a “reparação” a uma de suas irmãs.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - lUTa arMaDa 343

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!