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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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de logo cuspir bem cuspido e não engolir nada. Porém, se a pessoa tem cáries, então o<br />

veneno entra por elas e babau, é como se você tivesse sido picado.<br />

A resposta veio: “sim, tapem as cáries, vocês têm <strong>que</strong> estar bem preparados”. Entrei num<br />

dentista no Largo do Machado, já fui anunciando “<strong>que</strong>ro tapar todas as minhas cáries!”<br />

Na<strong>que</strong>le tempo eu não tinha experiência em lidar com dentistas, não sabia <strong>que</strong> são como<br />

mecânicos <strong>que</strong>, mesmo se o carro não tem nada, eles criam algum defeito. Depois de me<br />

examinar, anunciou “você tem cinco cáries”. Achei meio estranho, eu não sentia nada na<br />

boca, só imaginava <strong>que</strong> pudesse ter uma ou duas cáries incipientes. Mas enfim, a<br />

preparação da guerrilha vinha em primeiro lugar. “Quero tapar todas agora, de uma vez”.<br />

Fi<strong>que</strong>i sentado na<strong>que</strong>la cadeira por mais de duas horas, suportando o infernal zumbido<br />

da broca, todos os músculos enrijecidos se preparando para a dor – não quis anestesia – e<br />

ele provavelmente fazendo buracos em dentes <strong>que</strong> não precisavam. Saí de lá exausto,<br />

mas contente pensando “agora posso chupar veneno de cobra!”<br />

Tomamos o trem noturno para São Paulo e, chegando lá na estação, depois da devida<br />

troca de senha e contra-senha, o nosso contato nos levou de carro até um sítio no<br />

interior do estado, uma região conhecida como Vale da Ribeira. O sítio era nossa fachada<br />

para entrar e sair, receber algum material necessário e também base de reabastecimento<br />

de alimentos. Daí, já se entrava diretamente na mata. Dormimos na casa do sítio e o<br />

nosso treinamento começou no dia seguinte.<br />

Éramos umas vinte pessoas. A estrutura de comando era bastante simples: Lamarca era o<br />

chefe. Ele delegava tarefas e, se necessário, designava alguém para um temporário subcomando.<br />

Ele, na qualidade de ex-capitão do exército, tinha muita firmeza e experiência<br />

de comandar, todas as ordens eram seguidas à risca, nem passava pela nossa cabeça<br />

contrariar alguma decisão tomada por ele. O conhecimento prático <strong>que</strong> ele tinha<br />

adquirido como especialista do exército em combate anti-guerrilha era precioso e,<br />

somando isso ao fato de ele ter sido campeão sul-americano de tiro ao alvo com revólver,<br />

criava uma aura heróica <strong>que</strong> inspirava em nós bastante respeito.<br />

Tínhamos redes, <strong>que</strong> amarrávamos entre duas árvores, num ponto mais ou menos alto; a<br />

rede, feita de plástico leve e resistente, ficava de um metro a um metro e meio do chão.<br />

Construíamos alguma espécie de banquinho com galhos e troncos para subir e entrar na<br />

rede <strong>que</strong> abria e fechava com zíper e permitia ver tudo ao redor por umas aberturas<br />

cobertas com mosquiteiro. Simples essa redes, não? Ledo engano. No começo, ou elas<br />

ficavam tortas, ou muito altas, ou muito baixas, ou dávamos nós nas cordas. Fazia parte<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - lUTa arMaDa 333

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