06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

no PM. Surpreendi-o com um soco frontal do cano do revolver no seu tórax. Acho <strong>que</strong> a<br />

força do golpe foi excessiva de novo. Eu ia sempre com demasiada sede ao pote. Ele foi<br />

jogado contra a parede e caiu sentado, com um olhar apavorado, pedindo pelo amor de<br />

deus para <strong>que</strong> eu não o matasse. Talvez tivesse se machucado com o cho<strong>que</strong> do cano do<br />

revólver contra o seu diafragma. Vi <strong>que</strong> estava desarmado e vulnerável. Dava pena.<br />

Parecia muito fragilizado. Procurei pela mulher. Havia desaparecido. Nem deu pra sacar<br />

se valia a pena. Voltei para junto do Marquito.<br />

Estava tudo dominado. Então, entramos no carro pagador. Mas, para minha surpresa,<br />

havia, lá dentro, um senhor agarrado feito um carrapato à sacola do dinheiro. Eu disse<br />

para ele entregar a sacola e sair do carro. Ele não me obedeceu. Gritei com ele e nada.<br />

Dei-lhe um tapa na cara. Continuou imóvel. Comecei a esmurrá-lo. Ele não se mexia. Eu<br />

já não sabia como proceder quando o Marquito disse para eu deixar o sujeito em paz.<br />

Marquito tirou a sacola das mãos dele e o conduziu pelo braço, calmamente, para fora<br />

do carro. Foi aí <strong>que</strong> percebi <strong>que</strong> o sujeito estava paralisado de pavor. O <strong>que</strong> eu interpretara<br />

como resistência era apenas medo.<br />

A essa altura, a situação se complicara com a chegada de um carro da polícia civil <strong>que</strong><br />

começou uma troca de tiros conosco. O PM <strong>que</strong> estava dentro da agência também abriu<br />

fogo contra nós. Ficamos sem poder usar a metralhadora por<strong>que</strong> o companheiro <strong>que</strong> a<br />

portava foi ferido no braço direito. Mas conseguimos arrancar com o carro pagador,<br />

deixando a polícia para trás.<br />

Numa esquina erma, eu e o Jonas 12 descemos do carro forte. Caminhamos um pouco e<br />

tomamos um táxi para a Praça XV. Jonas carregava uma sacola com a metralhadora <strong>que</strong><br />

tomáramos de um PM <strong>que</strong> estava no carro pagador e fora rendido logo de cara.. O rádio<br />

do táxi anunciou o assalto ao carro do IPEG. E mais: informou <strong>que</strong> os assaltantes fugiam<br />

com o dinheiro em direção à Praça XV. No banco traseiro, Jonas e eu nos entreolhamos.<br />

Chegando à Praça XV, pagamos a corrida e descemos do táxi. Eu o aconselhei a não pegar<br />

a barca para Niterói. Mas ele não fez caso. Disse para eu ficar observando, por<strong>que</strong> ele<br />

estava determinado a atravessar a baía com a metralhadora. Fi<strong>que</strong>i de olheiro. Ele tomou<br />

a barca, <strong>que</strong> zarpou baía adentro. Logo em seguida a polícia chegou, fazendo estardalhaço.<br />

Retirei-me.<br />

12 Virgílio Gomes da Silva morreu na luta contra a ditadura.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - lUTa arMaDa 327

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!