06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

(Instituto de Previdência do Estado da Guanabara), na Avenida Presidente Vargas, e<br />

ficamos observando a saída do carro pagador. Era um carro forte <strong>que</strong> levava o dinheiro<br />

da sede para as agências. Voltamos algumas vezes. Acho <strong>que</strong> fui sempre com o Crioulo,<br />

mas pode ser <strong>que</strong> alguma vez tenha ido com o Iúri. Sei lá. Em todo o caso, foram poucas<br />

vezes.<br />

Disseram-me <strong>que</strong> a informação sobre os pagamentos do IPEG fora colhida nos jornais, o<br />

<strong>que</strong> era verossímil, pois o dia do pagamento, as agências e a lista dos beneficiários saíam<br />

publicados nos jornais. Muito tempo depois, fi<strong>que</strong>i sabendo <strong>que</strong> a informação viera de<br />

dentro, por um contato do Marighella. Tratava-se de uma alta funcionária do IPEG. Para<br />

o <strong>que</strong> vou contar, entretanto, esse é um detalhe sem relevância.<br />

A ação foi planejada e chegaram ao Rio os companheiros do famoso GTA, o Grupo Tático<br />

Armado de São Paulo. Do Rio, participaríamos três companheiros: o Barba, o Poeta e eu.<br />

Os dois primeiros ficariam no carro de cobertura; eu faria dupla com Marquito11 , o<br />

comandante da ação.<br />

Hora e local aprazados, estávamos a postos. Era uma agência. Na porta dela se formara<br />

uma fila de pensionistas. Havia um Policial Militar guardando a fila e outro dentro da<br />

agência. A ação começou com a chegada do carro pagador. Minha tarefa era dar<br />

cobertura ao Marquito, <strong>que</strong> deu uma banda no PM <strong>que</strong> guardava a fila. O cara era<br />

grandalhão, mas caiu de costas na calçada. Com o impacto do tombo, o capacete dele<br />

voou para um lado e o revólver para o outro. O PM esticou o braço, tentando alcançar a<br />

arma no chão. Reagi e apli<strong>que</strong>i uma coronhada no couro cabeludo do policial. A cabeça<br />

rachou e o sangue jorrou. Inseguro da eficácia do meu golpe, eu ia desferir outro em<br />

seguida, mas o Marquito me deteve. O cara estava desmaiado. Respirei aliviado. Eu estava<br />

muito tenso e, ao mesmo tempo, orgulhoso da minha coronhada. Era a primeira vez <strong>que</strong><br />

participava de uma ação armada. Marquito, mais experiente e comedido, comentou <strong>que</strong><br />

eu não precisava bater com tanta força na cabeça dos outros.<br />

Com a respiração ainda ofegante, observei <strong>que</strong>, na calçada oposta, caminhava, displicente,<br />

outro PM. Atravessei a rua, correndo em direção a ele. Ele vinha distraído por<strong>que</strong> estava<br />

pa<strong>que</strong>rando uma mulher. A mulher devia ser jovem, talvez atraente e, com certeza,<br />

desfilava coxas, bunda e peitos <strong>que</strong> eu não notei. Minha atenção estava toda concentrada<br />

11 Marco Antônio Braz de Carvalho morreu na luta contra a ditadura.<br />

326

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!