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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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O Jonas era um quadro, militante, de boa formação militar e política, pouco mais velho<br />

do <strong>que</strong> nós, procedente do movimento operário e havia feito treinamento de guerrilha<br />

em Cuba, no primeiro grupo enviado pelo Marighella. Foi o primeiro contato com a nova<br />

realidade. Na guerra, não há lugar para melindres, as coisas são diretas e claras, o<br />

subterfúgio, a dubiedade podiam levar à morte.<br />

Por algum problema técnico, a ação foi suspensa e retornamos ao Rio, com a orientação<br />

de iniciarmos nossa atividade. Afinal, “não pedimos licença a ninguém para praticarmos<br />

atos revolucionários”, “a vanguarda se dá pela ação” – palavras de ordem <strong>que</strong> imperavam<br />

na<strong>que</strong>le momento e era necessário leva-las à execução.<br />

Reunimo-nos algumas vezes e acabamos por acatar possibilidades de ações. Hoje, sei <strong>que</strong><br />

algumas foram trazidas pelo pessoal do Pedro II – Zona Sul, ainda mais jovens do <strong>que</strong> nós.<br />

Se tínhamos em torno de vinte anos, eles não chegavam aos dezoito, sendo <strong>que</strong> o<br />

Curumim estava com seus catorze anos.<br />

Começamos a fazer o levantamento de vários locais e realizamos algumas ações. Percebi,<br />

na<strong>que</strong>le momento, <strong>que</strong> não havia mais volta. Afinal, revolução não se faz com flores.<br />

Éramos revolucionários e estávamos sendo caçados como bandidos. Bom <strong>que</strong> a repressão,<br />

nesse início, não tinha noção de <strong>que</strong>m éramos e procurava no terreno errado. Incomodava<br />

a agressão sofrida na nossa formação, muitos de origem católica, de moral arraigada em<br />

princípios de honestidade e contrários à violência.<br />

De todos nós, é muito provável <strong>que</strong> o Wagner mais tenha sofrido este cho<strong>que</strong>. Jovem<br />

puro, quase angelical, criado pela avó, menino da zona sul, não sabia o <strong>que</strong> era ir a uma<br />

sapataria comprar um par de sapatos, já <strong>que</strong> a avó mandava <strong>que</strong> trouxessem alguns<br />

pares, em sua casa, para <strong>que</strong> ele escolhesse os <strong>que</strong> lhe interessavam. Sobrinho neto de um<br />

cardeal, acredito <strong>que</strong> tenha sido, entre nós, o <strong>que</strong> mais se superou.<br />

Lembro <strong>que</strong>, quando estava para viajar a Cuba, apresentei ao Wagner um casal, <strong>que</strong> era<br />

meu contato e apoio pessoal. Eram companheiros, simpatizantes <strong>que</strong> eram a nossa<br />

retaguarda, sem <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r outro companheiro da Organização tivesse conhecimento.<br />

O Bigode havia sido meu professor, casado com a Maria, também professora, pessoas<br />

agradabilíssimas, politizadas, sensíveis e contrárias aos desmandos da ditadura. Soube<br />

<strong>que</strong> o Wagner, quando procurado, ficou escondido por um período na casa do Bigode e<br />

da Maria. Quando preso, já em Minas, e barbaramente torturado até a morte, não revelou<br />

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