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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Éramos pessoas oriundas da classe média, pe<strong>que</strong>na burguesia, com todos os melindres e<br />

cuidados inerentes aos jovens dessas classes. A transformação de cada um de nós do<br />

movimento estudantil para a luta armada foi traumática. Saíamos de um movimento de<br />

pichações em muros, de correr da polícia nas passeatas, de ocupar faculdades. Jogávamos<br />

rolhas e bolas de gude para <strong>que</strong> os cavalos da Polícia Militar caíssem, quando de suas<br />

arremetidas. Saíamos das passeatas com palavras de ordens <strong>que</strong> indicavam os grupos ali<br />

representados, “o povo unido, jamais será vencido”, “só o povo armado, derruba a<br />

ditadura”. Nos comícios e depois de pe<strong>que</strong>nas falações, protegidos por seguranças criados<br />

dentro do Movimento Estudantil, partimos para burlar e enfrentar a repressão <strong>que</strong> já se<br />

tornava mais forte.<br />

Era um verdadeiro movimento de guerrilha urbana. Organizávamos pe<strong>que</strong>nos grupos<br />

<strong>que</strong> se juntavam em um mesmo momento, vindos de diversos locais, com falação curta<br />

e forte e dispersávamos, em seguida, para nos reagrupar em outro local, repetindo o<br />

movimento. Criáramos os comícios-relâmpago.<br />

Nesta ocasião, começamos a fazer pichações com seguranças armados. Nossas palavras<br />

de ordem pichadas pregavam a luta armada, pois conclamavam a população a se<br />

organizar e lutar, de forma armada, contra a ditadura. Apareciam os primeiros revólveres<br />

22, 32 e 38 em nossas mãos, armas de nossos pais, às vezes velhas e enferrujadas.<br />

Iniciamos nossos treinamentos de tiro, na Barra da Tijuca, ainda quase deserta; no Alto<br />

da Boa Vista e em sítios da família e de amigos. Exercícios de tiros, efetivados por mãos<br />

trêmulas e desajeitadas, por professores <strong>que</strong> estavam atirando pela primeira vez e já eram<br />

experts depois do segundo tiro.<br />

No início de 69, fui com o Barba até São Paulo. Íamos participar de uma ação de grande<br />

porte. Seria em um município próximo, onde fecharíamos algumas ruas e cobraríamos o<br />

ICR, isto é, Imposto Compulsório da Revolução, com ações de expropriação para arrecadar<br />

dinheiro, de vários bancos, todos próximos uns dos outros. Seria nossa primeira ação, <strong>que</strong><br />

serviria para ganharmos experiência e, logo, deflagrar o processo aqui no Rio. Fomos até<br />

o local escolhido, planejamos cada momento da operação, percorremos o caminho de<br />

fuga e conhecemos o local onde desembarcaríamos de um dos carros. Não éramos de São<br />

Paulo e não tínhamos a menor noção de onde estávamos. Perguntamos ao Jonas,<br />

comandante de nossa ação, como faríamos para sair dali. A resposta foi: “Companheiros!<br />

Confio na capacidade e iniciativa de vocês”.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - lUTa arMaDa 323

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