06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

um secundarista - hoje próspero homem de negócios - <strong>que</strong> vinha me pedir ajuda. O<br />

Alemão lhe havia pedido para confiscar um par de placas e ele carecia de apoio moral<br />

para a tarefa. Saímos, num fusca <strong>que</strong> ele tinha pedido emprestado, percorrendo ruas<br />

recônditas e pouco transitadas da zona sul, até acharmos um lugar <strong>que</strong> nos pareceu<br />

satisfatório. Essa ação é perigosa por<strong>que</strong> <strong>que</strong>m a executa fica totalmente exposto. Numa<br />

expropriação veicular ou bancária, o autor tem a iniciativa, vai armado e rende os<br />

circunstantes. Mas <strong>que</strong>m se ocupa da retirada de placas de carros estacionados na rua,<br />

na calada da noite, fica indefeso. Conta com a sorte. A qual<strong>que</strong>r momento, o dono do<br />

automóvel, ou outra pessoa, pode ir à janela e ver o <strong>que</strong> está ocorrendo. Se apenas der o<br />

alarme, não é tão grave, mas ele pode buscar uma arma e alvejar o companheiro <strong>que</strong> está<br />

se expondo. Cumpre ser rápido. Montei guarda enquanto meu jovem e habilidoso amigo<br />

retirava as placas e saímos o quanto antes do local.<br />

Tudo parecia calmo. Ninguém suspeito havia por perto. Adentramos a viatura. Liguei o<br />

motor e partimos. Em uma esquina da Rua do Catete, pegamos o Gota Serena e o Tigre<br />

- dois cabras da peste, baixinhos e arretados. Ambos ex-marinheiros <strong>que</strong> haviam<br />

participado da renomada Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, tão abominada<br />

pelo almirantado. O Tigre era preto como João Cândido, o Almirante Negro. Quatro<br />

esquinas mais abaixo, mais dois ex-marinheiros: o Faca Grande e o Motorista. A este<br />

último passei a direção.<br />

Nosso armamento era composto de alguns revólveres Taurus, calibre 38, duas Colt 45,<br />

uma das quais eu trazia, travada, enfiada no cós da calça, uma submetralhadora de<br />

fabricação caseira e uma metralhadora Thompson, da<strong>que</strong>las cujo pente tinha o formato<br />

de uma lata de goiabada e <strong>que</strong> eram muito usadas pelos gângsteres de Chicago na<br />

década de 30, sempre pilotada pelo Faca Grande. A submetralhadora tinha algum defeito<br />

de fabricação <strong>que</strong> a fazia engasgar após quatro ou cinco tiros. Tínhamos, também, duas<br />

granadas caseiras <strong>que</strong> consistiam em uma cabeça-de-negro envolta em dinamite e tudo<br />

enfiado em um pistom de motor de automóvel. Uma delas, em outra ocasião, eu ris<strong>que</strong>i<br />

e arremessei, a título de experiência, lá na mata do Grumari, mas ela não explodiu. O<br />

Tigre trazia, além disso, presa ao antebraço, com a ponta para cima, a fim de poder ser<br />

sacada com maior rapidez, e oculta pela manga comprida, uma faca de combate. A 45,<br />

enfiada na cintura da minha calça, ficava bem disfarçada pela camisa para fora e pela<br />

palmar ausência de barriga <strong>que</strong> me caracterizava na<strong>que</strong>les tempos áureos. A Thompson<br />

e a submetralhadora eram carregadas separadamente em enormes bolsas em formato de<br />

valise, <strong>que</strong> serviriam, também, depois, para colocar o dinheiro.<br />

318

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!