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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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desencadearam feroz repressão policial. A luta armada era a única opção <strong>que</strong><br />

vislumbrávamos. Cumpria prepará-la, montar aparelhos e criar estruturas de apoio.<br />

Carecia-se de recursos. Jamais poderíamos contar com a Fundação Fulbright ou com o<br />

BID para obtê-los. O caminho mais óbvio para suprir essa deficiência era o de angariar<br />

fundos junto ao capital financeiro nacional. Como não poderíamos contar com a boa<br />

vontade dos ban<strong>que</strong>iros, já <strong>que</strong> estes estavam comprometidos até a raiz dos cabelos com<br />

o golpe militar, a solução seria recorrer ao mecanismo da expropriação – um instituto do<br />

Direito Revolucionário.<br />

Eu e o Alemão, afro-brasileiro de sorriso franco e porte avantajado, nos aproximamos do<br />

carro estacionado há alguns dias numa rua secundária de Laranjeiras. Era um Aero Willys<br />

de cor cinza, o mesmo carro <strong>que</strong>, numa noite, alguns dias antes, tínhamos expropriado<br />

em uma rua calma e ladeada de casarões, na Tijuca. A tomada do veículo não havia sido<br />

totalmente pacífica. Um rapaz magrinho estava sentado ao volante do carro, parado<br />

junto ao meio fio, quando nos acercamos, eu pelo lado do motorista e o Alemão pelo do<br />

carona.<br />

- Chega pra lá e fica quieto.<br />

Empurramos o rapaz para o meio do banco da frente. Automóveis, na<strong>que</strong>les dias, eram<br />

equipados com um banco inteiriço na frente, onde podiam sentar três pessoas, e traziam<br />

a alavanca de mudança acoplada à barra de direção. O Gota Serena sentou-se no banco<br />

de trás. Nossa intenção era liberar o motorista um pouco mais adiante, para dificultar sua<br />

capacidade de clamar por socorro. Ele, contudo, não confiou nas palavras tranquilizadoras<br />

proferidas em tom pedagógico por a<strong>que</strong>le enorme crioulo ao seu lado. O olhar bondoso<br />

e cordial do meu grande companheiro se lhe afigurou como o faiscar de olhos ferozes de<br />

um assassino frio e sanguinário. Nem eu, dirigindo, do seu outro lado, com um bigode de<br />

mexicano insopitável, nem o nordestino com cara de jagunço de canudos, sentado atrás,<br />

conseguimos acalmá-lo, apesar de nosso sincero empenho. No primeiro sinal em <strong>que</strong><br />

parei, o jovem mancebo em apuros deu um ata<strong>que</strong> histérico, conseguiu abrir a porta do<br />

carona, jogar-se do carro no meio da rua e sair correndo. Arran<strong>que</strong>i, entrei numa rua<br />

contramão, saí por outra <strong>que</strong> dava mão e sumimos.<br />

Era esse o carro <strong>que</strong> estávamos indo buscar. A placa havia sido trocada.<br />

A obtenção de placas para a troca era a parte mais perigosa da operação. Alguns dias<br />

antes, por volta das onze horas da noite, tocou a campainha do meu apartamento. Era<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - lUTa arMaDa 317

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