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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Camarada Alípio<br />

Como me anima depoimentos como o teu.<br />

Os companheiros <strong>que</strong> citas - Otacílio Pereira dos Santos e Cláudio Ribeiro - são realmente<br />

da<strong>que</strong>les <strong>que</strong> não se pode es<strong>que</strong>cer. Mas te conto uma.<br />

Banido, retornei ao país em julho de 1976. Participava de um grupo <strong>que</strong> considero ter<br />

sido a minha melhor (e por enquanto última) militância. Melhor por<strong>que</strong>, depois do<br />

Movimento dos Marinheiros, foi meu reencontro com as massas e, dessa vez, operárias.<br />

Lembras da greve da Fiat em 1979 no Rio de Janeiro? Pois é, nosso grupelho dirigia o<br />

Comando de Greve. Nem conto <strong>que</strong>m eram nossos principais adversários.<br />

Bom, eu estava em Salvador, às bordas dos Alagados. Um dia, me chega um bilhete por<br />

canais progressistas da Igreja. Era o Cláudio, na pior das piores. Havia empreendido uma<br />

fuga quase impossível, de Itamaracá. Precisava ser resgatado. Situei isso no grupo e todos<br />

foram concordes em <strong>que</strong> deveríamos apoiá-lo. Só <strong>que</strong> a única pessoa <strong>que</strong> o conhecia era<br />

eu... E eu estava clandestino. A<strong>que</strong>la coisa de <strong>que</strong>m vai pôr o guizo no pescoço do gato.<br />

Assumi.<br />

Ele estava em Milagres. Arrumei um es<strong>que</strong>ma e juntei <strong>que</strong>m deveria ir comigo. No local,<br />

lá estava o Cláudio, com uma valise pendurada no ombro e um pacote quadrado na mão.<br />

Pensei <strong>que</strong> fosse rapadura! Nos cumprimentamos e senti um olhar estranho nele. Em<br />

síntese, não me reconheceu. Entramos no carro e ele sentou atrás do motorista. De<br />

repente, ele furou com o dedo o pacote <strong>que</strong> eu pensava ser rapadura e disse:<br />

- Se estão me prendendo iremos todos para o inferno!<br />

Foi um tremendo suadouro. Foi difícil convencê-lo de <strong>que</strong> eu era eu e <strong>que</strong> o <strong>que</strong> estávamos<br />

fazendo era salvá-lo. Foi duro. Tive <strong>que</strong> rememorar para ele detalhes de situações <strong>que</strong><br />

somente nós sabíamos.<br />

Ao cair em si, ao se dar conta de <strong>que</strong> estava em boas mãos, sua reação foi desabar em<br />

lágrimas. Gente, quanta história não contada!<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 313

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