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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Copacabana, estava quase desmaiando de fome e cansaço na praia da fantasia. Pensei,<br />

tenho de tomar uma atitude séria, senão vou morrer de fome.<br />

Atravessei a Avenida Atlântica, caminhei no rumo do prédio de frente, passei pelo<br />

porteiro, entrei no elevador, apertei um andar qual<strong>que</strong>r. A porta abriu e fui até o<br />

apartamento à minha frente, to<strong>que</strong>i a companhia. Apareceu uma senhora morena,<br />

baixinha, meio gordinha de cabelo pretos e lisos, eu disse: “senhora...” Ela respondeu de<br />

pronto, “se for pedir ou vender, por favor, não chateie”. Eu disse cabisbaixo, “Senhora...<br />

Por favor, eu sou do interior de Minas, estou estudando no Rio, meu pai não mandou a<br />

mesada e minha situação está horrível. Pelo amor de Deus, me dê um prato de comida”.<br />

A senhora fechou a porta e eu, sem ação, sentei no corredor, colo<strong>que</strong>i a cabeça entre as<br />

pernas, pus o marxismo de lado e pedi aos anjos da guarda <strong>que</strong> me ajudassem.<br />

Pouco depois a senhora abriu a porta do apartamento e me deu um prato de arroz com<br />

feijão e bife. Engoli tudo em poucos minutos, em seguida ela me deu água e me perguntou<br />

se <strong>que</strong>ria mais. Eu disse <strong>que</strong> sim. Ela me mandou entrar e sentar no sofá. Trouxe outro<br />

prato de comida. Transpirava tanto <strong>que</strong> estava todo molhado. A senhora colocou o<br />

ventilador na minha direção e eu tremia e o suor pingava. Ela disse <strong>que</strong> eu podia descansar<br />

um pouco. Fechei os olhos e cochilei. Acordei minutos depois e estava muito melhor.<br />

Falei de “minha vida”, <strong>que</strong> ia fazer vestibular para geologia, etc. Ela se apresentou e me<br />

disse <strong>que</strong> se chamava Ângela e me deu muitos conselhos, falou de Deus e <strong>que</strong> a vida era<br />

dura e <strong>que</strong> tínhamos de lutar para vencer. Agradeci e me despedi. Ela esticou a mão e,<br />

quando to<strong>que</strong>i, senti <strong>que</strong> tinha um dinheirinho. A dona Ângela me dera uma graninha.<br />

Agradeci, desci e senti <strong>que</strong> Copacabana voltava a ser bonita novamente. A<strong>que</strong>la quantia<br />

bastou para mais dois dias de pãozinho com manteiga e café com leite. As noites<br />

continuavam sendo nos ônibus. O meu sapato estava um trapo de tanto andar, a minha<br />

roupa fedia.<br />

No oitavo dia, caminhando de saco cheio, fome e meio zonzo, vejo vindo na minha<br />

direção, na Praça do Lido, um jovem <strong>que</strong> havia conhecido no movimento estudantil em<br />

Goiânia. Ele era carioca e um dos dirigentes da UBES. Era o Bernardo Jofilly7 . Ele me<br />

reconheceu, me abraçou e viu a minha situação... Horrenda! Perguntou-me o <strong>que</strong> estava<br />

acontecendo e expli<strong>que</strong>i a minha condição de pretendente revolucionário, perdido e<br />

7 Bernardo Jofilly, hoje é um dos intelectuais do PCdo B, tradutor de várias obras de renomados escritores<br />

Albaneses. Viveu na Albânia durante muitos anos.<br />

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