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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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maresia. Fechei os olhos, estava enfim, no Rio de Janeiro em Copacabana! Parecia um<br />

milagre. Atravessei a rua e fi<strong>que</strong>i no calçadão, vendo a<strong>que</strong>la gente bonita passar, de<br />

biquíni, maiô e eu de terno e gravata numa manhã de muito sol em plena praia de<br />

Copacabana.<br />

Às 12h30min caminhei até o meu destino: o restaurante Spaghettilândia. Cheguei em<br />

cinco minutos, dei voltas pela calçada, entrei e fui ao banheiro para reconhecer o<br />

ambiente, saí e andei mais um pouco. Às 12h50min, entrei no restaurante e sentei. Estava<br />

muito nervoso. Fiz os procedimentos do encontro e o tempo passou e a pessoa <strong>que</strong><br />

deveria “me resgatar” não aparecia. Imaginei: “foi presa, morta, está sendo torturada<br />

para entregar os pontos do dia”.<br />

Molhei a camisa de tanto suor de excitação e nervosismo. Pensei: “e se o ponto caiu, os<br />

caras da polícia estão me observando e vão me pegar na saída?” Permaneci ali, pasmo,<br />

esperei o máximo permitido pelas normas de segurança. Às 15 horas, completamente<br />

arrasado, paguei e saí bem devagar enquanto refletia:<br />

- E agora? O <strong>que</strong> vou fazer nesta cidade durante onze dias, sem ter para onde ir?<br />

Contei a grana e agradeci a meu primo Nerinho, pelo gesto. O dinheiro dava para comer<br />

uns três dias e dormir uns dois. Andava de um lugar para outro. À noite, tro<strong>que</strong>i a gravata<br />

por um churrasquinho e dei risadas. Durante dois dias, dormi numa espelunca no bairro<br />

do Flamengo e comia prato feito ou angu. No terceiro, comi à noite um pãozinho com<br />

manteiga. No quarto dia, a vaca foi para o brejo! Caminhava e caminhava e, à noite,<br />

como estava morrendo de sono, exausto de tanto caminhar, fui dormir na praia de<br />

Copacabana. Lá pelas tantas, acordei com uma batida policial. Os caras me pegaram.<br />

Expli<strong>que</strong>i a polícia <strong>que</strong> era estudante e vivia no Flamengo e <strong>que</strong>, na<strong>que</strong>le dia tinha<br />

pegado um porre, fi<strong>que</strong>i por ali e adormeci. Mandaram-me embora e foram levando um<br />

bando de gente para a delegacia. Eu tremia.<br />

De madrugada, morrendo de sono e nervoso, peguei um ônibus para o Méier, adormeci<br />

e fui acordado no ponto final. Pedi desculpas e expli<strong>que</strong>i <strong>que</strong> tinha passado do ponto,<br />

<strong>que</strong> não tinha grana para voltar e <strong>que</strong>, por favor me deixassem voltar até Copacabana.<br />

Assim fui enrolando o tempo. Durante o dia, tirava uma soneca na praia e comia um<br />

pãozinho com manteiga e um cafezinho. Ali pelo sexto dia, sem um centavo no bolso,<br />

estava realmente mal, vendo miragem, com uma fome de leão. Sentei no calçadão de<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 309

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