06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O companheiro me respondeu <strong>que</strong> seria onze dias depois.<br />

- O <strong>que</strong> eu vou fazer no Rio de Janeiro sem dinheiro durante onze dias, numa cidade <strong>que</strong><br />

eu não conheço? - Ainda por cima estava condenado pela justiça militar, continuei.<br />

O companheiro “Marison” fez um discurso da<strong>que</strong>les... Com voz grave disse:<br />

- O companheiro Juarez está desconfiando da capacidade da organização, está tendo um<br />

comportamento pe<strong>que</strong>no-burguês. Pois fi<strong>que</strong> sabendo <strong>que</strong> a organização nunca<br />

abandonou um companheiro...<br />

Bem didático, sem <strong>que</strong>rer ferir os brios revolucionários do meu companheiro “Marison”,<br />

eu repeti a pergunta:<br />

- E se houver algum problema o <strong>que</strong> eu deveria fazer, sem recursos, clandestino numa<br />

cidade <strong>que</strong> não tinha a menor ideia do <strong>que</strong> era?<br />

Levei outro sabão do companheiro “Marison”. Baixei a cabeça peguei a grana e, sentindome<br />

um novo revolucionário das causas populares, aceitei a missão, aliás, não tinha outra<br />

saída, era isso ou a cadeia.<br />

Felizmente ainda em Brasília, encontrei o meu primo Nerinho e sua esposa, a Neves, <strong>que</strong><br />

me acolheram e me deram um pouco de dinheiro. No outro dia, o meu primo me levou<br />

à rodoviária de Brasília e embar<strong>que</strong>i num ônibus com destino ao Rio de Janeiro. Chegamos<br />

ao Rio de manhã bem cedo. Ainda na Rodoviária tomei um café com leite e um pãozinho<br />

com manteiga. Fui ao banheiro, vesti uma boa camisa colo<strong>que</strong>i gravata e lá fui eu, de<br />

coletivo, rumo a Copacabana. Para os goianos Copacabana era o santuário da beleza,<br />

glamour, ri<strong>que</strong>za, perdição, enfim, um sonho.<br />

Cheguei em Copacabana e durante umas duas horas dei volta pela região, sondando o<br />

ambiente e, perguntando daqui e dali, finalmente localizei o destino <strong>que</strong> me levaria à<br />

minha nova missão na revolução brasileira. Ainda faltavam duas horas e meia para o<br />

encontro e continuei caminhando. Tomei coragem e perguntei a um taxista onde ficava<br />

o mar. O cara me perguntou se eu era mineiro, respondi <strong>que</strong> sim. Ele deu uma tremenda<br />

risada e me disse, “caminhe até o final desta rua e você vai ver o mar”. Desci a rua com o<br />

coração na mão, enfim ia conhecer o mar. De repente dei de cara com a<strong>que</strong>la coisa mais<br />

linda: o marzão. Parei na Avenida Atlântica meio bobo, meio lelé, senti o cheiro da<br />

308

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!