06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

espondeu com urinas de sangue, estresses oculares, precoces cabelos brancos, rotineiras<br />

vertigens, dores na alma. Qual valor indenizatório pode expiar essa pena moral e física<br />

não declarada, essas incabíveis prisões? Não, não há como es<strong>que</strong>cer!<br />

Passagens de vida são como ritos <strong>que</strong> nos ensejam balizas de sentir e comportar-se.<br />

Foram sinais de aprendizagem <strong>que</strong> me fizeram vencer a mim mesmo. Gestos de<br />

acolhimento <strong>que</strong> nos fazem lamber os ressentimentos para devorá-los e superá-los. Não<br />

confundir com a elisão de consequências de um tempo histórico, de tolerância e<br />

permissão de iniquidades. Não se trata de es<strong>que</strong>cimento, de realimentar mágoas, de<br />

relativizar ditaduras e lutas de resistência. Tampouco não é renúncia ao direito de irar-se.<br />

Mas, também, não é o se deixar contaminar pela vingança. É remir de nós mesmos a dor<br />

para desanuviar a alma como forma de “gentificar-se”. É a paz e o controle reconquistados<br />

sobre seus próprios sentimentos. É a aposta no futuro.<br />

Foi longo o caminho percorrido na provação, nos transes e tormentos. Como desmedida<br />

foi a aprendizagem da solidariedade desinteressada. Absorvi ânimo e brio para ver a vida<br />

para além dos meus próprios alambrados. É como se eu fora à lida para manter o<br />

encantamento e me deixar por ele irradiar em busca nunca alcançada da obra de nossas<br />

imaginações.<br />

Recuperei parte da minha vida profissional no Brasil depois de voltar, em 1979, do exílio<br />

no Canadá, junto com Tereza e meus filhos <strong>que</strong>ridos Izabela, Joana e Bergson, o caçula<br />

nascido em Ottawa, a <strong>que</strong>m não mais ousaram negar a cidadania pátria. Tornei-me<br />

professor da UNIFOR e técnico em desenvolvimento do trabalho. Retornei depois de<br />

quinze anos ao Canadá para concluir o mestrado em Sociologia; após dezenove anos<br />

voltei a Santiago. Em Fortaleza, concluí, em 2003, o curso de Direito na UFC, do qual<br />

havia sido expulso em 1969.<br />

Enveredei pela militância política novamente: “na essência você é o mesmo!” Vivo um<br />

exílio voluntário em Ottawa, Canadá, desde a morte de Brizola – <strong>que</strong> saudade do<br />

caudilho! - onde faço doutorado em criminologia, na Universidade de Ottawa, exatamente<br />

sobre o papel da Justiça Militar nos tempos da ditadura.<br />

Encontro a cada instante, no amor de meus <strong>que</strong>ridos filhos, genros e netos, no de minha<br />

amada Carmen Lúcia e no vigor de meus sonhos, a razão para me deixar mais e mais<br />

pervadir por esse sentimento <strong>que</strong> fez disparar o meu abraço em Brioso. Quanto a ele,<br />

continua no abrigo, es<strong>que</strong>cido pelo Exército <strong>que</strong> sonega documento probatório para a<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 305

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!