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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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e nem o perdão em formas analíticas. Há <strong>que</strong>m diga <strong>que</strong> o perdão é difícil por<strong>que</strong> é caro,<br />

já <strong>que</strong> a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> perdoa paga um tremendo preço, o preço do mal <strong>que</strong> perdoou. Outra<br />

vez busco os raios de sentimentos <strong>que</strong> se foram cravando dentro de mim ao longo de<br />

tantas estradas de provação. Faço Neruda dizer a mim mesmo <strong>que</strong> o maior dos sofrimentos<br />

é nunca ter sofrido, é como passar pela vida e não viver. Os temores se atenuam com<br />

mãos estendidas. E quando estas vêm de onde não se espera, os temores se esvaecem.<br />

Aprendi com essa ambivalência. E como aprendi!<br />

Como em oblação, a mim chegaram mãos e olhares protetores. Do Fernando Antônio<br />

Bezerra de Menezes e do Milton de Souza Carvalho, colegas de turma no Curso de<br />

Construção de Estradas, em 1964. Entre nós, posições antagônicas na política. Ao receber<br />

ordem de prisão em sala de aula, lembrei-me de documento clandestino, do Partidão,<br />

escondido em minha casa. Pressenti em seus olhares uma cúmplice compaixão e lhes<br />

pedi <strong>que</strong> fossem destruir a peça do “crime”. Foi o <strong>que</strong> fizeram.<br />

Carrego ainda hoje comigo uma generosa abertura para pessoas <strong>que</strong> pensam<br />

diferentemente de mim. Tenho apostado na interação da existência com os diversos<br />

modos da “con-vivência” como processo indutor de valores e de futuro. O debulhar da<br />

memória aqui narrada, lembrança por lembrança, segue as pegadas dessas trilhas. Trago<br />

à lembrança, nesse instante, o Gal. Lindomar de Freitas Dutra, nos primeiros anos da<br />

ditadura.<br />

Em 1964 o Dr. José Roberto de Mello Barreto é afastado da direção da Escola Industrial<br />

(atual CEFET). O interventor nomeado é o Gal. Dutra, <strong>que</strong> preside, também, o Inquérito<br />

Policial Militar - IPM para apurar subversão e corrupção na escola. Toca-me ser o alvo<br />

subversivo. Mesmo aos domingos, estando eu na minha casa ou na da minha namorada<br />

Suely, o general me mandava buscar para prestar depoimentos. Ia forçado e com muito<br />

ódio. Ao final de quase um ano de intervenção, retorna à direção o digno Dr. Roberto e<br />

eu não sou expulso da escola.<br />

Três anos depois, torno-me estudante de direito na Universidade Federal do Ceará - UFC<br />

e vice-presidente do seu Diretório Central dos Estudantes - DCE. Cláudio Pereira, diretor<br />

do Grupo de Teatro e Arte (GRUTA). Em meio a muitas vozes, ouço uma diferente a gritar<br />

por meu nome. Identifico o Gal. Lindomar de Freitas Dutra, dele me aproximo, e perguntolhe,<br />

surpreso:<br />

- General, <strong>que</strong> faz o senhor aqui?<br />

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