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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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algo de nascente em cada um de nós dois <strong>que</strong> permita atirar luzes do presente na<br />

escuridão do passado?<br />

- Adalberto, mudamos ou continuamos os mesmos?<br />

Silenciando sobre si mesmo, afirma:<br />

- Você mudou. Mas, na essência, é o mesmo.<br />

- Você tem razão, digo-lhe al tiro.<br />

Ao dizer-lhe <strong>que</strong> não o havia identificado no começo das aulas por<strong>que</strong> temia <strong>que</strong><br />

abandonasse o curso, ele confirma: “Com certeza, teria largado a cadeira”.<br />

Taciturnamente, despedimo-nos. Voltei a encontrá-lo uma outra vez. Entretanto, ao<br />

fingir <strong>que</strong> não me via, seu gesto foi a mensagem: qual<strong>que</strong>r tentativa de encontrar<br />

mudanças pessoais no presente para encarar nossas ações do passado torna-se um<br />

estorvo para ele. Quanto a mim, ele próprio já soubera bem ouvir a minha alma: “você<br />

mudou mas, na essência, é o mesmo”.<br />

Quantas surpresas ainda me aguardariam nos novos caminhos pós-exílio? O reencontro<br />

com Adalberto teria sido a premonição de tantos outros, com outras caras, <strong>que</strong><br />

continuavam nítidas em minha memória, em imagens revividas de áridos ambientes de<br />

compulsórios cárceres e de inquisitórias sindicâncias? Um filme rebobinado, numa<br />

fotocromia do passado superposta ao presente, faz de minha mente uma verdadeira<br />

passarela. Sigamos as trilhas.<br />

Final do século XX. Professor de Gerontologia Social na pós-graduação da Universidade<br />

Vale do Acaraú, campus avançado de Fortaleza. Uma aluna, Dra. Enoe Araripe Autran,<br />

mal sabia <strong>que</strong> sua proposta iria bobinar passadas películas em cho<strong>que</strong>s de surpresa. Sua<br />

sugestão de visitar a Casa de Passagem, por ela dirigida, de pronto foi aceita. Um abrigo<br />

público para pessoas idosas, deserdadas da terra, da família, do afeto, da condição de<br />

exploradas em um sistema em <strong>que</strong> ser explorado representa a chamada cidadania. Na<br />

manhã de um sábado, a turma inteira chega ao abrigo. Ao primeiro aceno receptivo da<br />

Dra. Enoe, assoma à nossa frente um homem em cadeira de rodas, uma perna amputada,<br />

de robustez gasta pelo tempo, mas ainda ágil, com ares de dono da casa.<br />

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