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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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14.12 enContro CoM aPolonio<br />

292<br />

Umberto Trigueiros<br />

Conheci Apolonio de Carvalho, aliás, o Camarada Lima, no começo de 1964, uns dois<br />

meses antes do Golpe Militar. Fui apresentado por Aluísio Palmar (André) <strong>que</strong> compunha<br />

a direção da Seção Juvenil Estadual do Partido Comunista no antigo Estado do Rio. Tinha<br />

apenas dezesseis anos e tive a honra e o orgulho, <strong>que</strong> carrego comigo por toda a minha<br />

vida, de ter sido recrutado por ambos para o Partido Comunista.<br />

Não sabia, na época, de <strong>que</strong>m se tratava, na verdade, a<strong>que</strong>le Senhor, o Camarada Lima.<br />

Somente anos mais tarde, fui conhecer a sua extraordinária biografia. Mas, já nos<br />

primeiros tempos em <strong>que</strong> travamos conhecimento, fi<strong>que</strong>i cativado pela sua capacidade<br />

de convencimento, pelo seu conhecimento cultural e político, pela sua dedicação ao<br />

Partido, aliados a um enorme interesse pelos problemas da<strong>que</strong>les garotos, uma grande<br />

ternura, muita paciência e uma enorme disciplina. Eu era, então, um rapazinho de<br />

dezesseis anos, cheio de sonhos e certezas, mas, ao mesmo tempo, com graves problemas<br />

de depressão. Lima percebeu isso e teve a sensibilidade, apesar de todas as suas<br />

responsabilidades e riscos (já em plena ditadura), de se preocupar comigo e me ajudar a<br />

superar esses problemas.<br />

Ele era assim: um quadro extremamente disciplinado e fiel ao Partido, mas muito aberto<br />

ao relacionamento humano; extremamente sensível aos problemas de todos os<br />

companheiros, dos simpatizantes e das pessoas, em geral, <strong>que</strong> por alguma razão faziam<br />

parte das suas relações. Além do mais, era dotado de um fantástico senso de humor. A<br />

gente brincava com o Lima, dizendo <strong>que</strong> ele cumpria tarefa do Partido, fazendo política<br />

de relações públicas, o <strong>que</strong> chamávamos, na ocasião, de ampliação, pois ele se interessava<br />

pelo cachorro do dono da casa em <strong>que</strong> fazíamos uma reunião, perguntava pela sogra,<br />

conversava com a empregada, dava palpite na cozinha, etc.<br />

Certa vez, era noitinha, estávamos Lima, Aluísio Palmar e eu, em Niterói, fazendo um<br />

ponto (encontro) em frente ao Instituto Mazine Bueno, da Faculdade de Medicina. Eles<br />

<strong>que</strong>riam me batizar com um nome de guerra e mandaram-me escolher. Eu estava de<br />

costas para o busto do patrono do tal instituto e o Aluísio de frente para o monumento.<br />

Ele aproveitou a oportunidade e tascou: “seu nome vai ser Mazine”. Lima completou, no

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