06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

amizade com um dos PMs <strong>que</strong> faziam a guarda do Presídio Paulo Sarasate, atrás do posto<br />

fiscal. Da amizade resultou um almoço no refeitório, eu e o carioca entre centenas de<br />

homens trajando farda de presidiários. Saí convencido de <strong>que</strong> ali não havia razão para<br />

motins.<br />

Cheguei a Russas de caminhão, dormi no alpendre de um restaurante. Em Salgueiro, vi<br />

uma porção de caminhões com placa de Palmeira dos Índios. Eram feirantes alagoanos,<br />

vendendo bichos na feira da cidade. No fim da tarde, recolhendo o <strong>que</strong> restara dos<br />

bichos, teriam <strong>que</strong> repor os garajaus nas carrocerias. Ofereci-me para o serviço. Pagaramme.<br />

Comi um sanduíche de carne <strong>que</strong> pôs fim à lembrança do refeitório do presídio. Em<br />

cima do caminhão, junto com eles, fui a Palmeira dos Índios. Quando lá chegamos, o<br />

dono do caminhão quis <strong>que</strong> eu pagasse a passagem. Os feirantes se cotizaram. Safei-me.<br />

Em Palmeira dos Índios, na rodoviária, falei ao motorista do ônibus <strong>que</strong> eu viera de<br />

Fortaleza sem conseguir trabalho. Estava voltando para a família em Maceió. Ele<br />

consentiu <strong>que</strong> eu viajasse de graça. Em Maceió, eu tinha a aparência de um vodum em<br />

noite de celebração.<br />

Passei dois meses em Maceió, ainda na república dos estudantes. Procurei por Concita,<br />

com a secreta esperança de <strong>que</strong> enviuvara. O velho, seu amante, mudara-se de roupa e<br />

cama para a casa dela. Cumprimentei-a com um olho caído. Ela me olhou oblíqua,<br />

ofendida...<br />

Não assumi tarefa, não devia, visto <strong>que</strong> teria <strong>que</strong> voltar a Fortaleza e não devia saber de<br />

nenhum detalhe do trabalho dos camaradas.<br />

Com o dinheiro <strong>que</strong> me deram, voltei a Fortaleza pelo mesmo percurso. Hospedei-me<br />

numa pensão no centro. Quando eu estava preenchendo a ficha de hóspede, a dona, uma<br />

loura cheirosa, de bons modos, perguntou-me o <strong>que</strong> eu viera fazer em Fortaleza.<br />

- Procurar trabalho – respondi.<br />

- Eu tenho um amigo da Polícia Militar, é tenente-coronel. Quer <strong>que</strong> eu fale com ele para<br />

ver se consegue um trabalho para você?<br />

288

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!