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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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na polícia, pediu <strong>que</strong> eu preenchesse a ficha de hóspede. Depois, chamou um policial<br />

também hospedado lá. Disse para mim:<br />

- Mostre seus documentos a este senhor <strong>que</strong> é um policial.<br />

Mostrei a identidade. O velho, gordo, com um chapéu de feltro na cabeça, examinou o<br />

documento e disse-me, autoritário:<br />

- Já está com a data vencida. Providencie outro!<br />

- Sim, senhor...<br />

Entrei no banheiro para tomar banho. Ouvi o policial dizendo <strong>que</strong> não recebia gorjetas<br />

de ninguém, a não ser de prostitutas. A dona da pensão não era prostituta, mas sentiu-se<br />

aparentada com elas só para concordar com o policial.<br />

Fui à capela do Cemitério do Mororó, no fim da rua. Deveria ajoelhar-me com um pacote<br />

de fósforo na mão. Alguém me identificaria e eu deveria fazer a pergunta: “Que horas<br />

poderão ser?” Ao <strong>que</strong> o interlocutor deveria responder: “As horas <strong>que</strong> você quiser”.<br />

Ajoelhei-me. Em minha direção, veio um rapaz da minha altura, louro, com um par de<br />

tênis puídos nos pés. A pergunta <strong>que</strong> eu deveria fazer a ele, ele me fez. Houve inversão.<br />

Eu dei a resposta <strong>que</strong> deveria ser dele. Imaginei <strong>que</strong> era polícia infiltrado e trocara as<br />

senhas. Eu disse <strong>que</strong> ele me esperasse, eu iria trazer outra pessoa <strong>que</strong> o introduziria na<br />

estrutura da organização em Fortaleza. Quando saí do cemitério, fui à hospedaria, paguei<br />

o <strong>que</strong> devia e disparei de volta para Maceió, convencido de <strong>que</strong> fora descoberto por um<br />

policial.<br />

Como o dinheiro acabara, fui andando para um posto da fazenda estadual, afastado da<br />

cidade. Muitos caminhões de carga eram submetidos à vistoria. Precisariam de ajudantes.<br />

Podia conseguir carona para Salgueiro, de lá para Palmeira dos Índios e estaria próximo<br />

de Maceió. À noite, parei em Caucaia para descansar num bar. Um homem meio bêbado<br />

puxou conversa comigo. Teve pena de mim. Levou-me para dormir em sua casa. Não me<br />

ofereceu comida e deu-me para dormir uma rede suja, entranhada de um cheiro de<br />

vinagre podre.<br />

Depois de dois dias dormindo num depósito de notas fiscais velhas, fiz amizade com um<br />

rapaz <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria transporte para a Bahia. Era carioca. Gostavam de sua conversa. Ele fez<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 287

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