06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Movimento de Ação Revolucionária, MAR - com os fuzileiros navais em Angra dos Reis e<br />

do qual saí ferido, tendo sido posteriormente capturado. <strong>Queria</strong>m <strong>que</strong> ela, entre uma<br />

coisa e outra, revelasse meu paradeiro, o <strong>que</strong> lhe era impossível saber. Aliás, já estávamos<br />

até separados. Foi torturada e viu torturas de nosso pessoal na Barão de Mesquita. Entre<br />

eles José Duarte, André Borges, Jarbas Mar<strong>que</strong>s e muitos outros. Não recebeu qual<strong>que</strong>r<br />

reparo pelos danos físicos e morais <strong>que</strong> sofreu, mas não se <strong>que</strong>ixava. E estou quase certo<br />

de <strong>que</strong> nada reivindicou, mesmo com minha insistência nesse sentido.<br />

Nada disto impediu <strong>que</strong> ela seguisse sua estrada solidária, ora escondendo pessoas, ora<br />

atendendo a necessidades de familiares de <strong>que</strong>m não podia aparecer e muitas vezes<br />

cruzando fronteiras para acompanhar e apoiar perseguidos em busca de exílio.<br />

Teria muito a dizer sobre essa brava mulher, mas este não é o lugar nem o momento. Já<br />

me estendi até demais e por isso me desculpo. Imaginem como me sinto. Embora tenha<br />

consciência de <strong>que</strong> a única certeza da vida é a morte, quando ela atinge pessoas <strong>que</strong> nos<br />

são especiais por muitos motivos - e neste caso para mim bem mais amplos -, a dor é<br />

mais sofrida. Não posso es<strong>que</strong>cer de quando e como nos conhecemos e da vida <strong>que</strong> nos<br />

uniu um dia.<br />

14.9 1971<br />

Marco Albertim<br />

A primeira imagem do golpe <strong>que</strong> vi foi de camponeses sendo torturados por soldados da<br />

PM, na cadeia pública de Goiana, onde nasci, no interior de Pernambuco. A cidade foi<br />

ocupada pelo exército. As damas da sociedade local receberam os soldados com<br />

sanduíches e sucos. Quatro anos depois, entrei no movimento estudantil. Fui diretor da<br />

UBES. Em 71, perseguido, passei quatro anos na clandestinidade.<br />

Certa noite de maio de 1971, fui ao, então, Colégio Estadual de Pernambuco, onde<br />

estudava há dois anos e meio. Como não havia jantado, entrei pelos fundos, por uma<br />

porta de acesso à cantina. Comi, despreocupado, um prato de macaxeira com char<strong>que</strong>.<br />

Quando paguei, um colega me chamou para um canto e disse <strong>que</strong> na frente do colégio<br />

havia dois homens de paletó, elegantes, <strong>que</strong> perguntavam por mim. Eram dois agentes<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 283

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!