06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

- E o <strong>que</strong> ela disse? - perguntaram os atores de es<strong>que</strong>rda <strong>que</strong> fre<strong>que</strong>ntavam o camarim<br />

das moças.<br />

- Ela passou o dedo indicador numa poeira ao lado da metralhadora e perguntou com<br />

seu sota<strong>que</strong> italiano: “Isolda, o <strong>que</strong> é isso?”<br />

- Não sei, mamãe, - contou Isolda, se fazendo, para a mãe, de desentendida.<br />

- Isolda, isso é pólvora! Você sabe <strong>que</strong> seu pai fuma na cama! Essa casa vai explodir, seu<br />

pai vai acordar com o barulho e ficar furioso com você!<br />

Diante disso, Isolda pediu ao vigia noturno <strong>que</strong> guardasse a mala com as armas, o <strong>que</strong> foi<br />

feito, felizmente, antes de um policial passar pela Lagoa e revistar sua casa, de onde só<br />

retirou, como prova contra ela, os livros de Trotsky e Marx e fotos do Che e do Fidel.<br />

Até <strong>que</strong> a barra pesou de verdade e a polícia cercou o teatro no dia em <strong>que</strong> Marcos iria<br />

me buscar com o meu fusca no fim da peça. Orlando Miranda, dono do Teatro Princesa<br />

Izabel, me chamou ao seu escritório para me avisar <strong>que</strong> eles <strong>que</strong>riam falar comigo para<br />

saber do Marcos.<br />

Menti <strong>que</strong> não sabia dele e, apavorada, voltei para o camarim “de es<strong>que</strong>rda” para saber<br />

o <strong>que</strong> fazer. Foi quando Isolda teve a ideia de aumentar a peça, falando o antigo texto<br />

do Avarento, <strong>que</strong> estava na gaveta, já <strong>que</strong> o <strong>que</strong> falávamos era um outro muito menor,<br />

depois de cortado pelo diretor. Nós, os atores de es<strong>que</strong>rda, aumentamos o texto, enquanto<br />

os de direita, sem entender o <strong>que</strong> se passava, chegaram a ficar tão furiosos a ponto de<br />

um deles dar na cara de Isolda, em cena. Tive <strong>que</strong> entrar antes da minha hora para<br />

contar-lhe, “entredentes”, o <strong>que</strong> estava acontecendo. O público ria de Procópio, <strong>que</strong>,<br />

enquanto isso, fazia graça, sem dar a menor bola para a gente, transformando a peça de<br />

Moliére numa comédia, literalmente dos Irmãos Marx.<br />

E enquanto víamos, do palco, a polícia na plateia cercando o fundo do teatro, Procópio,<br />

em plena cena, sem suspeitar do <strong>que</strong> se passava, perguntava a um grupo de atores<br />

durante uma pausa:<br />

- E então? Vamos jantar onde? Na Fiorentina ou no Varanda?<br />

280

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!