06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

14.6 <strong>Geração</strong> <strong>68</strong><br />

Maria Lucia Dahl<br />

Eu já era atriz, em <strong>68</strong>, quando comecei a fre<strong>que</strong>ntar as primeiras passeatas. Ia com o<br />

pessoal do Cinema Novo ou com o do Grupo Opinião, mas o Vianinha, <strong>que</strong> era do Opinião<br />

e do Partidão, ou seja, do Partido Comunista, não concordava com a maneira de agir dos<br />

estudantes de diversas organizações e acabei ficando, mesmo, entre o Cinema Novo e o<br />

Movimento Estudantil.<br />

Nessa época, eu ensaiava O Avarento, de Molière, com Procópio Ferreira, <strong>que</strong> voltava aos<br />

palcos, 20 anos depois, com grande elenco.<br />

Os estudantes estavam no auge quando encontrei um deles num “ponto”, lugar onde um<br />

militante esperava por outro para dar alguma ordem, e ambos fingiam <strong>que</strong> estavam<br />

passando e se falavam rapidamente sem se olhar. Com o Marcos foi assim: encontrei-o<br />

quando eu passava de carro com alguns amigos pelo Leblon e o reconhecemos das<br />

passeatas, em <strong>que</strong> ele era líder estudantil. Quando paramos o carro para falar com ele,<br />

contou-nos <strong>que</strong> esperava por alguém <strong>que</strong> não apareceu deixando-o sem saber para onde<br />

ir, perseguido pela polícia e dando sopa na rua a uma hora da<strong>que</strong>las. Acabou indo parar<br />

lá em casa, já <strong>que</strong> eu estava morando sozinha, recém-separada do meu marido.<br />

Thais Portinho e Isolda Cresta, <strong>que</strong> faziam O Avarento comigo, também eram militantes,<br />

e ambas escondiam pessoas ou coisas em suas casas. Thais concordou em dar guarida a<br />

um contato político de Isolda, <strong>que</strong> apelidamos de “contatinho”, passando rapidamente a<br />

“Tatinho”, apelido <strong>que</strong> virou seu codinome desse dia em diante. Isolda escondia armas no<br />

seu sótão, morrendo de medo de <strong>que</strong> o pai ou a mãe percebesse. Como éramos atrizes e<br />

não militantes radicais, não fazíamos ideia do perigo <strong>que</strong> estávamos correndo, divertindonos<br />

com a<strong>que</strong>les atos, como se fossem “artes” feitas por crianças.<br />

Marcos usava o meu automóvel, segundo ele, para levar companheiros a reuniões, tais<br />

como a Nancy Mangabeira e vários outros estudantes <strong>que</strong> eu conhecia de vista, das<br />

passeatas ou das reuniões lá em casa, até <strong>que</strong> um dia Isolda chegou lívida no teatro,<br />

contando <strong>que</strong> sua mãe tinha descoberto as armas escondidas no sótão.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 279

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!