06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Mudança de rota. Fomos de trem, novamente, para Campo Grande e, de lá, para Ponta<br />

Porá. Atravessamos uma rua dividida no meio pela fronteira e pisamos em Pedro Juan<br />

Caballero, já no Paraguai.<br />

Na euforia de chegar até Assunção e empreender a fuga, tomamos um litro de uís<strong>que</strong><br />

“importado”, comemos arroz, feijão e muito bife acebolado. Eta viagem desgraçada!<br />

Ônibus toco duro e terra bruta, onde era necessário descer para <strong>que</strong> o veículo pudesse<br />

subir as encostas. Ah! E a sede! Ines<strong>que</strong>cível sede! Na primeira e única parada, consumimos<br />

cinco coca-colas per capita, portanto, quinze para os três sedentos.<br />

Assunção pela manhã. Com o coração pulsando e a cabeça ereta. Estávamos indo para o<br />

“Eldorado”. Compras de bonés guerrilheiros, óculos escuros e muitos, muitos maços de<br />

cigarros. Tudo importado e acessível nas bancas de camelôs.<br />

Embaixada Brasileira. Com um misto de inocência e destemor, fizemos um pedido para<br />

irmos até a Argentina continuar o nosso “passeio”. Pedido atendido, sem problemas,<br />

desde <strong>que</strong> – devidamente registrado na autorização – por somente dez dias e apenas<br />

para a Argentina. Isso não podia ser obstáculo, pois outro passo já tinha sido realizado.<br />

Da Argentina para o Chile, só faltaria mais um. Sabe da<strong>que</strong>la: “Não sabendo <strong>que</strong> era<br />

impossível, foi lá e fez”. Se fosse hoje não daria certo. Com documentos próprios, com<br />

bonés “guerrilheiros”, três jovens barbudos, com jeito de “revolucionários”. Era tanta<br />

tontice junta <strong>que</strong> só poderia dar... certo.<br />

Cruzamos a Argentina, passamos pela gloriosa Córdoba e seu cordobazo e, ali, ainda<br />

tomando cerveja de litro, chegamos até Mendoza. O orgulho explodia, a terra prometida<br />

estava muito próxima. Nessa noite, em uma pensão “meia boca” ou “boca e meia”,<br />

trocamos o resto dos pesos argentinos por bons vinhos. Hoje, não sei se, realmente, eram<br />

tão bons assim. Terminamos os pesos, substituídos por cigarros “americanos”. A cada dois<br />

maços uma botella do bom vinho.<br />

A travessia dos Andes, um misto de alegria, tristeza, coragem, orgulho, medo, fé, saudades,<br />

amizade. Temperança dos sentimentos.<br />

Em plena divisa da Argentina com o Chile, a alfândega estava cheia de cartazes de<br />

“terroristas procurados”, dos Montoneros, do ERP. Igual ao Brasil. Eu me encontrava ali,<br />

de frente para o policial argentino, com a<strong>que</strong>la autorização concedida pela embaixada<br />

brasileira no Paraguai de, lembrando, somente dez dias e, apenas, para a Argentina. . Ele<br />

balançou a cabeça, olhou-me, olhou de novo e nos autorizou a ir para o Chile.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 277

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!