06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

estariam sendo submetidos. Encontrávamo-nos perdidos. Resolvemos, temporariamente,<br />

o problema graças a um companheiro <strong>que</strong> não militava na nossa Organização, mas nos<br />

apoiava, o Ivano Campos. Ele, mais lúcido e frio, ligou a um amigo para pedir pousada<br />

para a<strong>que</strong>la noite, pois não poderíamos correr o risco de sermos apanhados em locais<br />

conhecidos.<br />

O amigo <strong>que</strong> nos recebeu de pronto e entendeu a nossa situação, em nome de sua grande<br />

solidariedade socialista e humana <strong>que</strong> sempre norteou e ainda hoje marca a sua atuação<br />

no cenário político do Rio de Janeiro, foi o Ivan Pinheiro, hoje dirigente do PCB. Recém<br />

casado, morava na Rua Mariz e Barros, na Tijuca, e era também estudante de Direito na<br />

UEG, mas aluno da 5ª série e participava da luta estudantil.<br />

Agora imaginem o quadro. Às onze e pouco da noite, com sua esposa grávida nos<br />

primeiros meses, recebe, no apartamento, quatro homens com a cara tensa do dia mal<br />

resolvido, com um jornal <strong>que</strong>, comprado na Leopoldina, relatava a notícia do dia, em<br />

desta<strong>que</strong>. Na primeira página, com letras garrafais: “Presos Ladrões de Banco, três<br />

conseguem escapar após tiroteio na Penha”.<br />

Segundo o Ivan comentou anos mais tarde, a sua primeira filha, Tatiana, quase nasceu<br />

antes da hora na<strong>que</strong>la madrugada. O banheiro foi pe<strong>que</strong>no para a quantidade de vezes<br />

<strong>que</strong> o casal despejou a sua tensão e nervosismo. Grande e solidário Ivan! Que coragem<br />

em nos acolher na<strong>que</strong>las circunstâncias e risco. Dormimos no chão da cozinha salvos do<br />

relento ou da iminente prisão e acordamos com café da manhã e pão <strong>que</strong>ntinho trazido<br />

pelo Ivan <strong>que</strong> não dormiu a noite inteira, mas velou para <strong>que</strong> chegássemos à manhã mais<br />

longa de nossas vidas e ao começo da clandestinidade, da fuga, da minha prisão e da<br />

morte do nosso grande irmão Tonico.<br />

14.5 tudo CoMeça onde terMina<br />

Um depoimento sincero e apaixonado pela vida e pelo futuro<br />

Arnaldo Agenor Bertone<br />

Depois de pontos cobertos em São Paulo e no Rio de Janeiro, sendo <strong>que</strong>, o de São Paulo<br />

teve início pela manhã com a leitura na Folha de São Paulo, sobre a “fuga” do Bacuri,<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 275

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!