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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Na ação da<strong>que</strong>le dia, 4ª ou 5ª-feira, o meu ponto seria em Ramos. Conhecia muito bem<br />

o bairro em <strong>que</strong> fui criado. Saíram do apartamento o Zé Duarte com o André Borges e eu<br />

me deslo<strong>que</strong>i para o ponto. Enquanto aguardava o carro, ouvi o rádio da loja anunciar<br />

<strong>que</strong> ladrões de banco haviam sido cercados e presos em Brás de Pina. Liguei os fatos com<br />

o banco <strong>que</strong> eu tinha levantado: o Banco Nacional da Avenida Brás de Pina, em Vista<br />

Alegre, onde eu era bem conhecido. Como eu morava lá perto e fre<strong>que</strong>ntava o bairro, não<br />

deveria aparecer.<br />

Imediatamente, peguei o ônibus de volta à Ilha e limpei o aparelho. Enfiei a metralhadora,<br />

os revólveres, a pistola e munição, além dos documentos, numa base <strong>que</strong> tínhamos<br />

justamente para uma fuga e, acreditem, entrei no ônibus e voltei para Ramos, onde meu<br />

pai possuía uma farmácia. Chamei meu irmão Paulo, avisei-o do perigo e pedi-lhe <strong>que</strong><br />

segurasse a barra, <strong>que</strong> ia ficar pesada. Sem <strong>que</strong> ele percebesse, combinei com o amigo<br />

José Roberto o transporte da bolsa para sua casa. Lá, as armas ficaram escondidas e bem<br />

cuidadas até serem passadas para o Aton Fon, da ALN, com segurança e sem comprometer<br />

meu amigo e meus familiares.<br />

O nosso grupo legal era composto de estudantes de Direito <strong>que</strong> fizeram parte da Aurex,<br />

instituição <strong>que</strong> prestava assistência na penitenciária. Por meio dessa associação,<br />

estabelecemos contato com os marinheiros presos políticos <strong>que</strong> ajudamos na fuga. Nesse<br />

grupo, havia rapazes e moças, jovens, como eu, <strong>que</strong> nos acompanhavam desde o prévestibular.<br />

Entre eles, destaco o meu amigo de jardim de infância, Antônio Sérgio de<br />

Mattos – morto heroicamente em São Paulo em 1971 – com o qual eu tinha intensa<br />

ligação. Nesse dia, tínhamos um ponto na cidade, pois iríamos alugar um apartamento.<br />

Tínhamos decidido <strong>que</strong> deveríamos limpar o “aparelho” familiar, já bastante desgastado<br />

com o entra e sai de homens, fato <strong>que</strong> acabaria despertando a atenção dos vizinhos.<br />

Encontrei-me com o Antônio Sérgio, fomos à imobiliária e assinamos o contrato. Já<br />

sabendo <strong>que</strong> houvera <strong>que</strong>da, mas sem saber <strong>que</strong>m havia “caído”, fomos para a casa dele,<br />

pois eu já tinha apanhado umas roupas e ele estava somente com a do corpo. Chegamos<br />

na hora do Jornal Nacional, com o Cid Moreira narrando a prisão dos primeiros<br />

assaltantes do banco, no Rio, e mostrando o Zé Duarte e o André. Ficamos mudos, sem<br />

mostrar reação, para não assustar os pais dele. Entretanto, já saímos dali com a certeza<br />

de <strong>que</strong> a noite seria longa e difícil e ainda faltava avisar a outro companheiro. O Vitor<br />

Sepúlveda morava no apartamento conosco e tinha sido avisado por mim para não voltar<br />

ao apê. Marcamos um “ponto” para decidir o rumo <strong>que</strong> tomaríamos, sabedores de <strong>que</strong> os<br />

companheiros não teriam condições de resistir por muito tempo às torturas a <strong>que</strong><br />

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