06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Quando, no entanto, viu passarem-se sessenta dias e eu ainda preso, meu pai começou a<br />

preocupar-se. Tinha, então, posição de prestígio na maçonaria cearense e não tardou em<br />

usá-lo. Não mais <strong>que</strong> de repente, vi meu nome ser enunciado na chamada matinal, feita<br />

todos os dias e ouvi do oficial do dia: “Pode ir embora!”<br />

Na sequência, devo dizer <strong>que</strong> recebi um forte abraço da minha mãe, muito beijos<br />

carinhosos da minha mulher e da minha filhinha, mas foi o Seu Andrade <strong>que</strong>m me<br />

abraçou e, em prantos, dizia, “Graças a Deus, meu filho, graças a Deus!”<br />

Depois, foi ao meu pai ibadiano a <strong>que</strong>m recorri para me ajudar a cumprir mais uma tarefa<br />

<strong>que</strong> o Partido, o PCB me deu: acolher uma companheira vinda não sei de onde. Muito<br />

loura e bonita, a companheira entrou na minha casa muda e saiu calada. Nunca soube<br />

<strong>que</strong>m era. Era perigoso tê-la comigo posto <strong>que</strong> acabara de sair da prisão. Mas só podia<br />

entregá-la quando ela tivesse uma carteira de identidade falsa, para viajar.<br />

Eu não sabia o <strong>que</strong> fazer! Abri o jogo para o meu pai. Contei-lhe a situação e disse: “o<br />

senhor precisa me ajudar”. Ele nada <strong>que</strong>stionou. Pegamos então o seu jipe candango e<br />

fomos a Maranguape para cumprir nossa tarefa, agora minha e dele. Lá, o “lambe-lambe”<br />

<strong>que</strong> fez a foto da companheira, ao saber <strong>que</strong> se tratava de uma pessoa “doente mental”,<br />

exclamou: “Que pena, uma moça tão bonita!” Era mesmo. Mas, bonita de fato, foi a<br />

atitude do meu pai. Ah! Isso foi!<br />

14.3 raQuel, a viúva<br />

Urariano Mota<br />

Em homenagem à<strong>que</strong>les <strong>que</strong>, mesmo sem envolvimento direto na militância, foram pessoas<br />

solidárias <strong>que</strong>, em muitas circunstâncias, poderiam perder a vida quando salvaram vidas,<br />

quando nos ajudavam.<br />

Tudo começou com uma troca de mensagens. Na primeira, eu me referia a um projeto de<br />

site, a um sítio <strong>que</strong> pudesse abrigar as manifestações de literatura e arte de um coletivo<br />

chamado “Os Amigos de <strong>68</strong>”. Dizia eu, na primeira mensagem:<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 269

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!