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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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14.2 seu andrade, o ibadiano<br />

2<strong>68</strong><br />

José Flamarion Pelúcio Silva<br />

Dizem <strong>que</strong> mãe é mãe e <strong>que</strong> todas são iguais. Pode ser. Mas pai, não sei se são todos<br />

iguais. O meu, o senhor Raimundo Andrade Silva, era... não sei bem como defini-lo, mas<br />

sei <strong>que</strong> era um homem de uma integridade total.<br />

Estou dizendo isso por<strong>que</strong>, em outra página, referi-me a ele como membro do IBAD,<br />

Instituto Brasileiro de Ação Democrática, uma das mais odiosas entidades da<strong>que</strong>le<br />

momento <strong>que</strong> antecedeu ao golpe de 1964. O IBAD atuava dentro do Congresso Nacional<br />

cooptando, leia-se, comprando, parlamentares para formar uma frente de oposição ao<br />

governo democrático e reformista de João Goulart.<br />

Pois bem, o Seu Andrade era membro do IBAD, sim, mas era também um fervoroso<br />

diácono da 1ª Igreja Batista de Fortaleza e maçom. Afora isso, era cidadão cumpridor dos<br />

seus deveres e excelente pai e chefe de família. Aquariano, era um visionário. Criou, nos<br />

anos 1960, um cartão de crédito pessoal e uma agência de consultoria empresarial, ideias<br />

<strong>que</strong>, evidentemente, não prosperaram face à extemporaneidade com <strong>que</strong> eram oferecidas<br />

a uma Fortaleza ainda provinciana.<br />

Idealizou e buscou apoio para uma escola infantil a <strong>que</strong> denominava Milícia dos<br />

Acasianos, <strong>que</strong> teria sede em Maranguape. Chegou a escrever seus estatutos, onde falava<br />

da responsabilidade para com as crianças desassistidas e comprou um terreno para a sua<br />

construção. Por razões várias, não pôde levar a termo esse seu sonho.<br />

Mas, a 15 de abril de 1964, fui preso. Tinha eu somente vinte e um anos, estava casado,<br />

tinha uma filha de onze meses de idade e, apesar das nossas diferenças ideológicas,<br />

mantínhamos um relação absolutamente normal entre pai e filho. Diria mesmo, <strong>que</strong> eu<br />

era o filho mais <strong>que</strong>rido do Seu Andrade. Tive muitas provas disso. As maiores delas me<br />

vieram após a minha prisão. É verdade <strong>que</strong> ele andou expressando certa satisfação pelo<br />

fato. Acreditava <strong>que</strong> eu precisava ter a<strong>que</strong>la “lição”. Pensava <strong>que</strong> tudo se resolveria com<br />

uma prisão, um inquérito e uma soltura, até por<strong>que</strong> não conhecia meu nível de<br />

envolvimento com a luta libertária do povo brasileiro.

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