06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

segundo ano científico, mas parei para casar. Ao término de seis meses, fiz as provas da<br />

Secretaria de Educação / SP para concluir o curso e para espanto geral passei em todas<br />

as matérias. Em seguida, prestei vestibular para o curso de Letras da USP, da PUC-SP e da<br />

Faculdade de Ciências e Filosofia de Moema, essa última dirigida por professores da<br />

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Como tenho a política no sangue e sou<br />

muito agitada, a direção do PC do B achou melhor <strong>que</strong> eu me matriculasse na Faculdade<br />

de Moema, e assim foi. No primeiro semestre, fui indicada por minhas colegas de turma<br />

para trabalhar como professora substituta em escolas estaduais. Fui funcionária dos<br />

governadores Laudo Natel, Paulo Egydio Martins e Paulo Maluf. Participei das greves dos<br />

professores de 1978 e 1979 fazendo pi<strong>que</strong>te na porta das escolas onde lecionava.<br />

Viajei algumas vezes para Europa como Teresa. Passei por diversas situações de risco em<br />

aeroportos internacionais e na fronteira Brasil-Argentina. Ao atravessar a cidade de<br />

Uruguaiana para a Argentina, os soldados do Exército entravam no ônibus recolhendo os<br />

passaportes e, com cartazes de “procura-se”, examinavam todos os passageiros. Foram<br />

momentos de tensão, sentia-me como uma espiã de filmes americanos <strong>que</strong> fugia dos<br />

inimigos.<br />

Durante os anos de vida clandestina, fiz inúmeras amizades, sendo Liana a mais<br />

importante. Conheci-a na porta do Colégio onde estudava meu filho Igor, em 1972. Com<br />

o início da Guerrilha do Araguaia, tivemos <strong>que</strong> nos afastar da família Grabois e da Costa<br />

Reis (família de minha mãe) e, por esse motivo, ficamos muito isoladas, minha mãe e eu.<br />

Criamos laços fraternais com essa mulher solidária e amiga. Passávamos o Natal e o Ano<br />

Novo na casa da família Casarolli. Liana e eu ficamos tão amigas <strong>que</strong> seus três filhos me<br />

consideravam como se fosse uma verdadeira tia. O grande amigo de meu filho Igor era o<br />

filho mais velho dessa pessoa tão especial para mim. Com a Anistia e meu retorno à<br />

legalidade todos foram informados da minha identidade e da minha história de vida. Se<br />

há uma pessoa a <strong>que</strong>m eu devo agradecer, esta foi Liana, <strong>que</strong> sempre me ajudou sem<br />

saber os riscos por <strong>que</strong> passava. Em janeiro último, essa grande amiga faleceu e senti sua<br />

perda como se fosse uma irmã.<br />

A vida na clandestinidade talvez seja mais difícil do <strong>que</strong> anos de prisão. Apesar do medo<br />

e do sofrimento, os dezesseis anos da “vida” de Teresa criaram uma nova identidade: uma<br />

mulher forte e guerreira <strong>que</strong> contribuiu para continuar a árdua luta por uma sociedade<br />

mais justa e igualitária.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - ClaNDeSTiNiDaDe e SoliDarieDaDe 267

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!