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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Muitas outras histórias eu poderia contar, mas a <strong>que</strong> me parece mais interessante foi a<br />

manifestação de massa clandestina <strong>que</strong> organizamos no Rio, creio <strong>que</strong> nos fins de 1967<br />

(por favor pessoal de boa memória me ajude).<br />

Explico. O clima era de avanço da repressão. Estava muito difícil organizar passeatas,<br />

fazer panfletagens e ou pichações, etc. Mas tínhamos plena convicção de <strong>que</strong> a luta<br />

contra a ditadura passava pela mobilização e conscientização das massas. Decidimos<br />

organizar o batizado da Praça Che Guevara. Escolhemos uma praça em Cascadura, onde<br />

havia acesso por trem, por ônibus e todos os meios de transporte. Organizamos, apesar<br />

do refluxo, cerca de 300 pessoas para fazerem parte da manifestação. Quase todos do<br />

movimento estudantil, mas outros setores organizados também foram mobilizados. A<br />

ciência estava em fazer chegar ao mesmo tempo todas estas pessoas sem chamar a<br />

atenção da repressão, executar um ato muito rápido e afastar-se antes da chegada da<br />

polícia.<br />

A “massa” foi dividida em grupos em torno de oito pessoas, para os quais foram definidos<br />

caminhos e meios de deslocamento diferentes. A cada grupo foi atribuída uma missão.<br />

Os <strong>que</strong> pichariam, os da panfletagem, os dos discursos, os da segurança, os da logística e<br />

assim por diante.<br />

Ou seja, a clandestinidade do movimento de massa estava na sua organização e<br />

mobilização. Mas como não poderia deixar de ser, é claro, a manifestação foi pública e<br />

teve alguma repercussão. Proferi o discurso de inauguração. O evento, principalmente,<br />

tentava apontar a possibilidade de mantermos vivo o movimento de resistência à<br />

ditadura. Depois do ato, dispersamos. Tudo <strong>que</strong> planejamos aconteceu.<br />

Infelizmente, o AI5 em dezembro de <strong>68</strong> fortaleceu todos os <strong>que</strong> entendiam <strong>que</strong> a única<br />

resistência possível era a armada e assim o tipo de preocupação com a ação política ficou<br />

um pouco fora de órbita. Foi um momento de desmobilização da militância e do sucesso<br />

de frases do tipo: “o partido se fortalece se depurando”. Em julho de 69 me afastei da<br />

direção do partido.<br />

No entanto, é importante registrar, inclusive por<strong>que</strong> este debate está vivo, <strong>que</strong> o<br />

movimento de resistência enquanto teve força era democrático, interessado na criação<br />

de alternativas republicanas e na construção de um processo de desenvolvimento. A<br />

repressão conseguiu nos levar ao isolamento e nosso posicionamento contribuiu para<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - oPçõeS De lUTa e MiliTÂNCia 263

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