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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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eu fazia oposição ao Hélio, <strong>que</strong> retratando a doença da Psicanálise, dizia <strong>que</strong> pobre ou<br />

operário só entrava no seu consultório como pedreiro, eletricista ou pintor. Jocken<br />

Kemper, discípulo de Hélio na Clínica Social, localizou um discurso maravilhoso de Freud<br />

no congresso mundial de Psicanálise em Budapeste, em 1918. Freud sonhava alto, para o<br />

amanhã. “Haverá o dia em <strong>que</strong> milhares de pessoas <strong>que</strong> sofrem da miséria emocional<br />

terão o mesmo direito de acesso à psicoterapia <strong>que</strong> já têm hoje à cirurgia e ao tratamento<br />

para tuberculose”. Apesar de estar apenas a um ano da revolução de 1917, Freud não<br />

mencionou as condições para tal.<br />

Eu estava ainda no Jequitinhonha vivenciando Medicina Comunitária, quando li notícias<br />

do empenho de Hélio em reunir-se com o General Euler Bentes e outros artistas e<br />

intelectuais, na tentativa de articular uma candidatura desse militar, quase como um<br />

contra-general, no período de transição entre a anistia de 79 e as grandes manifestações<br />

pela diretas já. Sempre articulando e tentando abrir caminhos e horizontes, como luz <strong>que</strong><br />

corre para a luz<br />

Fato ilustrativo na vida de Hélio foi-me relatado por Vera Cordeiro, fundadora do Setor<br />

de Psicossomática do Hospital da Lagoa e depois da ONG Renascer, <strong>que</strong> muitíssimo<br />

auxiliou mães carentes durante a assistência a seus filhos na<strong>que</strong>le Hospital, projeto bem<br />

sucedido <strong>que</strong> cresceu e se multiplicou. Vera fazia análise de grupo com o filho de Hélio,<br />

Pedro Pelegrino. Ela contou <strong>que</strong> na noite do assassinato de Allende, no Chile, tão logo<br />

soube da notícia, Helio saiu às ruas, de madrugada, com seu filho Pedro. Picharam muros<br />

qual em 19<strong>68</strong>: “Fora ditadura assassina! Viva Allende!” Nessa linha, lutou muito na<br />

Sociedade de Psicanálise do Rio de Janeiro, em oposição a Leon Cabernite, pela expulsão<br />

de Amilcar Lobo, <strong>que</strong> foi depois cassado pelo CREMERJ, por ter participado de torturas<br />

no DOI-CODI, no Rio de Janeiro. Hélio deu também muito apoio à psicanalista Helena<br />

Viana <strong>que</strong> fez a primeira denúncia e foi, por isso, intensamente perseguida.<br />

Durante a crise na Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ), o chamado Fórum,<br />

<strong>que</strong> integrava seus membros em ambiente libertário, reuniu-se no Sindicato dos Médicos.<br />

Lá, presente em uma de suas reuniões, assisti à polêmica criada pelo fato de Wilson<br />

Chebabi ter aceitado o pedido para participar como analista didata da instituição a<br />

convite da<strong>que</strong>les <strong>que</strong> haviam expulsado Hélio e Mascarenhas, na melhor versão do<br />

“Ame-o ou Deixe-o”. Nem em teatro vi algo tão trágico, passional. Pelegrino agigantavase<br />

na sua eloquência maldita, bem dita.<br />

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