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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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es<strong>que</strong>rda. O México, por exemplo, acolheu muitos exilados brasileiros, entre eles, Francisco<br />

Julião. Mesmo muito dependentes dos Estados Unidos, os mexicanos tinham uma retórica<br />

radicalmente antiimperialista e recordavam suas rebeliões camponesas. Para lá foram os<br />

quinze libertados pelo se<strong>que</strong>stro do embaixador americano, Charles Elbrick, e os cinco do<br />

cônsul japonês em São Paulo, Nobuo Okuchi, respectivamente, em setembro de 1969 e<br />

março de 1970. Na segunda leva estava eu.<br />

O quarto se<strong>que</strong>stro, em janeiro de 1971, levou setenta companheiros ao Chile <strong>que</strong>, desde<br />

1964, havia sido um refúgio para muitos brasileiros perseguidos pela ditadura. Com o<br />

governo de Salvador Allende (1970-73), milhares de cidadãos brasileiros e outros tantos<br />

de países vizinhos ali se juntaram na esperança de um socialismo por via eleitoral, ainda<br />

<strong>que</strong>, escaldados, a maioria dos revolucionários exilados previsse o golpe militar.<br />

Uma bem sucedida ação “diplomática”, <strong>que</strong> reuniu gente de diferentes tendências, não<br />

só dos grupos armados, nem só de brasileiros, foi a Frente Brasileira de Informação, <strong>que</strong><br />

difundiu pela Europa boletins com denúncias de torturas, de arbitrariedades e outros<br />

fatos da ditadura. Arraes foi uma espécie de orientador da iniciativa <strong>que</strong> mobilizou<br />

muitos jovens brasileiros <strong>que</strong> estudavam no exterior. Informações sobre o Brasil entraram<br />

nas mais diferentes redes de ativistas europeus, desde partidários da guerrilha até<br />

defensores de direitos humanos, universidades, partidos e organizações sociais. “Campeão<br />

de torturas” tornou-se outro epíteto do Brasil, tricampeão de futebol na Copa de 1970.<br />

Essas andanças pelo mundo, <strong>que</strong> envolviam cada vez mais exilados e mais continentes, à<br />

medida <strong>que</strong> se sucediam os golpes na América do Sul, estabeleceram uma teia de relações<br />

e aprendizados <strong>que</strong> ajudaram a formar uma geração de brasileiros menos provincianos,<br />

com uma visão mais complexa da política e do desenvolvimento. Alguns perseguiram a<br />

revolução em processos populares como os do Chile, Portugal e África. Realidades cruas<br />

puseram em che<strong>que</strong> o voluntarismo revolucionário, as crenças simplificadoras. Muitos<br />

conheceram na prática o Estado do bem-estar social europeu e moderaram suas<br />

convicções, aderiram à social democracia ou renderam-se à qualidade de vida dos países<br />

nórdicos, ali permanecendo mesmo após a anistia de 1979, <strong>que</strong> foi restrita mas permitiu<br />

o regresso dos exilados ao Brasil.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - oPçõeS De lUTa e MiliTÂNCia 255

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