06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

movimento, como Ben Bella, a serem presos, assassinados ou desterrados, numa briga<br />

pelo poder, sem <strong>que</strong> estivessem em jogo, na minha percepção, ideais, <strong>que</strong> nos moviam<br />

na<strong>que</strong>la época, de um socialismo etéreo. Depois havia o problema das mulheres e das<br />

etnias marginalizadas, mas ainda era incipiente minha preocupação com a igualdade de<br />

gênero e quase nulo meu conhecimento sobre os grupos étnicos da Argélia. O<br />

reconhecimento da diversidade como valor e principio vital só viria muito mais tarde, no<br />

meu caso, fruto do trabalho jornalístico, não da militância revolucionária <strong>que</strong> operava no<br />

sentido contrário, o da visão homogeneizante.<br />

novos aMiGos<br />

Mas a Argélia foi também de aprendizado, de abertura de horizontes, de amizades com<br />

revolucionários de varias nacionalidades. Lá conheci alguns militantes do MPLA<br />

(Movimento Popular de Libertação de Angola), da FRELIMO (Frente de Libertação de<br />

Moçambi<strong>que</strong>), da resistência portuguesa à ditadura salazarista. A amizade com os<br />

angolanos, especialmente o bem humorado Juquinha, é <strong>que</strong> nos levou a Angola em<br />

1976, eu, Lia (Maria do Carmo), sua mãe Angelina e o Juarez com três anos e meio.<br />

Juquinha é como chamávamos o Julio de Almeida, <strong>que</strong> se tornou famoso como o<br />

Comandante Juju, porta-voz das forças armadas do MPLA <strong>que</strong> tomaram Luanda pouco<br />

antes da independência em 11 de novembro de 1975 e passaram os anos seguintes<br />

tentando assumir o controle do território nacional. Miúdo, branco, barbudo, sempre com<br />

uma piada ou comentário jocoso, angustiava-se em Argel à espera de condições para<br />

juntar-se à guerrilha no Leste de Angola. Depois <strong>que</strong> deixei a Argélia, no inicio de 1970,<br />

só vim a ter noticias dele em 1975, já como Comandante em Luanda, mas procedente do<br />

Leste Europeu. Após a independência voltou à vida civil de engenheiro mecânico, foi<br />

vice-ministro dos transportes e diretor das estatais de aviação e de petróleo, além de<br />

deputado, até <strong>que</strong> se desiludiu dos rumos políticos do país. O seu desencanto foi<br />

exorcizado no seu romance Vaicomdeus S.A.R.L, não por acaso o nome de uma<br />

funerária.<br />

Em Argel convivi mais ainda com os exilados brasileiros <strong>que</strong> se agrupavam em torno de<br />

Miguel Arraes, derrubado e preso pelos militares em 1964, quando governava Pernambuco,<br />

e exilado na Argélia de 1965 a 1979. As longas conversas com Arraes foram um diálogo<br />

de surdos como ele próprio definia. Na nossa petulância de jovens revolucionários,<br />

rejeitávamos os “velhos” políticos, mesmo os de es<strong>que</strong>rda, <strong>que</strong> desqualificávamos como<br />

252

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!