06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

24 de dezembro, véspera de Natal. Edésio Passos, advogado de Curitiba, veio buscar-me.<br />

Atrás, no Volkswagen <strong>que</strong> se afasta, vou olhando minha ilha, despedindo-me de cada<br />

pessoa, cada rua, cada casa, cada amigo.<br />

Não sabia quanto tempo levaria para voltar.<br />

12.6 Meu Pai benJaMin<br />

Velso Ribas<br />

Sei <strong>que</strong> muitos de nós enfrentaram, além da repressão, seus próprios pais. Tais <strong>relatos</strong>,<br />

sempre me deixaram acabrunhado, ao mesmo tempo em <strong>que</strong> faziam brotar em minha<br />

memória sentimentos de gratidão por minha família <strong>que</strong> sempre esteve ao meu lado com<br />

amor e coragem.<br />

Meu pai nasceu na Galícia, Espanha, em 1910 e chegou ao Brasil com 5 anos. Meu avô<br />

Daniel, emigrou trazendo toda sua jovem família. Ele era escultor e estucador. Passou a<br />

vida deslocando-se, indo para onde havia trabalho; da Bahia para Minas e depois para o<br />

Rio. Era um anarcocomunista e anticlerical, embora ganhasse a vida construindo igrejas<br />

e mantendo encrencas doutrinárias com os padres.<br />

Meu avô exultou com o triunfo da revolução russa e pôs o nome de Lenine em seu filho<br />

mais novo. Esse, por sua vez, deu-lhe o primeiro neto e o velho patriarca sapecou-lhe o<br />

nome de Wladimir Lenine. Meu pobre primo penou por causa desse nome.<br />

Chegando ao Rio, meu avô foi morar no bairro da Saúde e foi ali <strong>que</strong> meu pai cresceu.<br />

Tornou-se um exímio serralheiro e desde jovem trabalhava assim: na mão es<strong>que</strong>rda, uma<br />

tenaz com a qual agarrava a barra incandescente na forja e, na mão direita, um martelo<br />

<strong>que</strong>, depois de muitos golpes, curvava o ferro em ornatos espiralados perfeitos. Isso lhe<br />

deu destreza, força e uma musculatura atarracada.<br />

O bairro da Saúde era um caldeirão de cultura. Ali, viviam, lado a lado, negros das docas,<br />

artesãos espanhóis, portugueses e italianos. Ali se formaram grupamentos comunistas,<br />

anarquistas, times de futebol, de remo, de boxe e de capoeira. Blocos de carnaval. Meu<br />

pai fre<strong>que</strong>ntou tudo isso e, aos domingos, punha seu terno de linho branco e ia para as<br />

gafieiras sambar. Adorava dançar e me passou esse gosto.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - o ai-5 (13/12/19<strong>68</strong>) 237

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!