06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

luta específica em favor de causas locais ou <strong>que</strong> envolvesse problemas daqui. Francisco<br />

Mastella, advogado, militante da Ação Popular, havia providenciado habeas corpus para<br />

vários militantes. Mas o AI-5 acabava com esse instituto.<br />

Nem poderíamos, depois do AI-5, portanto, impetrar ação na Justiça com esse objetivo.<br />

Artigo nº 10 - Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos,<br />

contra a segurança nacional e a economia popular.<br />

O exército vem vindo e as meninas enfrentarão a barra, pensei. Célia mobilizou o vizinho<br />

do lado, seu amigo e ficou <strong>que</strong>imando o resto dos documentos, enquanto saltamos,<br />

Valmir e eu, pela janela do meu quarto <strong>que</strong> dava para outra rua, onde Heitorzinho nos<br />

esperava com um carro. Dei um último adeus a Célia. Enquanto saltava, escutei Vino, o<br />

amigo de Célia, conversando e, lentamente, abrindo o portão do corredor para os<br />

soldados.<br />

Como não tínhamos, na<strong>que</strong>la hora, uma chave disponível, fomos, Valmir, Heitorzinho e<br />

eu, para a praia de Canasvieiras. Heitor nos deixou lá e voltou ao centro para acertar<br />

detalhes sobre a segurança e esperar alguns contatos <strong>que</strong> deveriam chegar de São Paulo<br />

ou Paraná. Valmir, com pena de me deixar sozinha, ficou em Canasvieiras. Teve<br />

dificuldade depois para explicar a Ely, sua esposa, onde passara a noite. Ely era uma<br />

pessoa muito boa, mas ciumenta. Irritava-se por<strong>que</strong> Valmir não lhe explicava <strong>que</strong>m<br />

éramos e o <strong>que</strong> fazíamos. Andávamos sempre juntos, fazíamos reunião, usávamos sua<br />

casa, desaparecíamos para reuniões e seminários. E ninguém lhe esclarecia nada. Era<br />

para a segurança dela, mas ela acreditava?<br />

Passamos a noite na praia, deitados na areia. Era de madrugada e fazia frio. Sentimos<br />

falta do café. A<strong>que</strong>la não era uma noite como as outras, quando vínhamos com o grupo<br />

do Paraíso da Estudante Universitária para pescar e fazer caldo de camarão. Os rapazes<br />

traziam arpão, as meninas preparavam os temperos. Salete dirigia a comida. Loli namorava<br />

Tavo, fazendo redinha de cordão com as mãos. Alguns tocavam violão, outros cantavam.<br />

Getúlio, namorado da Salete, cuidava de tudo. Era o único não estudante do grupo.<br />

Olhei para o céu... o silêncio. Fui aprendendo a ouvir o silêncio e ficar calada. Fui<br />

adquirindo autocontrole. No fundo, tudo parecia um filme.<br />

234

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!