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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Éramos um pe<strong>que</strong>no grupo. Os dirigentes do Movimento Estudantil dos anos 67 e <strong>68</strong> na<br />

UFSC. Valmir Martins, estudante de odontologia; Etny Amaro Lorenzi Filho, Economia;<br />

Paulo Joaquim Alves, Medicina; Roberto Maciel Cascaes, secundarista; Rosemeire<br />

Cardoso, Serviço Social; Heitor Bitencourt Filho, Medicina; Wladimir Salomão Amarante,<br />

Direito. Vários outros: Luis Alves a <strong>que</strong>m chamávamos de Lula, Caveira, Rômulo Coutinho,<br />

Sérgio Bonzon e Jane, considerados “área próxima”. Roberto Motta começara a liderar<br />

um grupo separado do nosso e, por casualidade, não estava no DCE.<br />

Havíamos planejado deslocar-nos a diferentes áreas, em caso de golpe, mas não havia<br />

nenhum lugar “amarrado” exatamente para a<strong>que</strong>la noite. Valmir, Heitorzinho e eu<br />

passamos, rapidamente, em casa, em uma esquina da Rua Hercílio Luz, onde morávamos<br />

- quatro universitárias. Começamos a destruir papel. Peguei meus diários: - cadernos e<br />

cadernos. Começo a <strong>que</strong>imá-los. Valmir Martins se impacientou:<br />

- Mas, essa criatura ainda escreve diário?<br />

Limitei-me a rir. Parece mentira, na<strong>que</strong>la agitação toda de <strong>68</strong>, ainda tinha tempo para<br />

escrever diário e poesia. Não perdi a mania até hoje, apesar dos desencontros da vida.<br />

Queimei tudo e, decididamente, <strong>que</strong>imei, na<strong>que</strong>le momento, parte de mim mesma. Ato<br />

<strong>que</strong> se tornaria uma prática habitual com o decorrer dos anos. Mas eu ainda não sabia<br />

disso.<br />

A casa somente tinha uma entrada. Célia Boaventura, minha amiga do peito, estudante<br />

de Pedagogia da UFSC, estava na janela, vigiando a rua. Se não viesse a repressão,<br />

poderiam vir os bombeiros, por causa da fumaça. O nervosismo aumentava.<br />

Apesar das prisões anteriores não terem tido maiores consequências, adivinhamos <strong>que</strong>,<br />

desta vez, seria pra valer. Não haveria habeas corpus. Não sabíamos exatamente como<br />

seria. Éramos idealistas como todos os jovens de 20 anos. Acreditávamos na bondade<br />

humana. As torturas pareciam longínquas. Só possíveis no Vietnã e Nicarágua.<br />

Em 1967, fizéramos a Campanha de Solidariedade com o Povo Vietnamita. Distribuímos<br />

centenas de jornais, cadernos, panfletos sobre a luta heróica da<strong>que</strong>le povo. Havia poucos<br />

dias, quando do início das conversações de Paz em Paris, nossa capital amanhecera<br />

pichada com a palavra de ordem: VIETNÃ VENCERÁ NA LUTA. Fora uma pichação<br />

formidável, com 52 participantes sem nenhuma prisão. Para o número de habitantes da<br />

nossa ilha, foi uma participação consideravelmente alta, pois não se tratava de nenhuma<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - o ai-5 (13/12/19<strong>68</strong>) 233

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