06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ora, se é verdade <strong>que</strong>, na<strong>que</strong>les tempos de Guerra Fria, todas as matérias tendiam<br />

rapidamente a se politizar e a assumir extremados contornos ideológicos, no Brasil, a<br />

ditadura acentuou ainda mais essa tendência, levando-a ao paroxismo e, portanto, ao<br />

estágio da morbidez: era igualmente suspeito e acusado de subversivo o/a militante<br />

político/a clandestino/a; o/a jovem de roupas “estranhas” e/ou cabeludo; ou a jovem <strong>que</strong><br />

pregasse e/ou exercesse livremente sua sexualidade antes do casamento, etc., ainda <strong>que</strong><br />

as consequências pudessem ser diferentes.<br />

Por isto, não podemos falar de qual<strong>que</strong>r aspecto da vida da<strong>que</strong>les anos no Brasil, sem<br />

tratarmos diretamente da <strong>que</strong>stão da ditadura, da política, da disputa de poder. Se, numa<br />

democracia (por mais limitada <strong>que</strong> seja), costumam ser muitas as mediações e variáveis<br />

entre o comportamento cotidiano dos cidadãos e o poder de Estado, na<strong>que</strong>le contexto<br />

tais mediações e variáveis tendiam a zero. Ou seja, em nosso país, discutir qual<strong>que</strong>r dos<br />

assuntos postos em pauta por 19<strong>68</strong>, é discutir também o regime e, muitas vezes, o<br />

próprio sistema.<br />

Um problema grave corta transversalmente as diversas representações da<strong>que</strong>les anos,<br />

especialmente 19<strong>68</strong>. Isto está disseminado, seja em trabalhos ficcionais, acadêmicos, ou<br />

textos políticos de es<strong>que</strong>rda <strong>que</strong> acabam coincidindo com leituras e versões oficiais da<br />

direita.<br />

Essas leituras e versões oficiais da direita têm a intenção e objetivo muito claro de<br />

desqualificar a história da<strong>que</strong>le tempo, fazendo com <strong>que</strong> a<strong>que</strong>las manifestações/erupções<br />

não sejam apropriadas enquanto parte da saga do povo brasileiro. O problema maior é<br />

<strong>que</strong> muitos estudiosos e artistas (das várias áreas), sem perceber, acabam fazendo eco e<br />

legitimando esse tipo de construção.<br />

O primeiro equívoco reside na <strong>que</strong>stão de classe, onde se misturam diversas <strong>que</strong>stões. O<br />

discurso comum nos afirma <strong>que</strong> a<strong>que</strong>les protagonistas eram, em sua maioria esmagadora<br />

– se não na sua totalidade – jovens estudantes da classe média.<br />

Classe média é uma expressão impressionista <strong>que</strong>, na melhor das hipóteses, pode nos<br />

falar de determinadas faixas de renda, estabelecidas arbitrariamente a partir dos objetivos<br />

(geralmente mercadológicos) e intenções do autor <strong>que</strong> dela se utilize. Afirmar <strong>que</strong><br />

a<strong>que</strong>les sujeitos históricos pertenciam à “classe média” nada nos diz. Exceto se tal<br />

expressão vier carregada de um juízo de valor pejorativo (estigmatizante) e/ou se for<br />

tratado como sinônimo de “pe<strong>que</strong>na burguesia”. Neste caso, trata-se de um equívoco<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - o ai-5 (13/12/19<strong>68</strong>) 229

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!