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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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expostos na seguinte sequência: armas, literatura e subversão da moral e dos bons<br />

costumes.<br />

No setor das armas, facas domésticas, canivetes e estiletes, além de meia dúzia de<br />

garruchas de bucaneiros, peças geralmente do século XIX, muito usadas, então, para a<br />

decoração de ambientes, uma vez <strong>que</strong> sua serventia para qual<strong>que</strong>r combate era nula e<br />

munição já não mais se fabricava.<br />

No segundo setor, “farta literatura” subversiva. Na ausência de documentos clandestinos<br />

ou de obras de Marx, Engels, Lênin, Guevara, Mao, etc., tomavam seus lugares pilhas de<br />

livros, coroadas por títulos como O Vermelho e o Negro, de Sthendal, Manual de Bombas<br />

Hidráulicas, etc.<br />

No terceiro setor, a investida dos “subversivos/as”, contra “as mais sagradas tradições<br />

cristãs do nosso povo”, e pela “destruição da família”. Ou seja, amontoados de caixas de<br />

pílulas anticoncepcionais e preservativos.<br />

A exposição sintetizava bem o <strong>que</strong> pensavam os senhores do regime, sua visão de mundo,<br />

e qual a ordem – para além do político stricto sensu – pretendiam para o país. Cada um<br />

da<strong>que</strong>les setores representava claramente uma esfera onde pretendiam intervir<br />

prioritariamente e com maior dureza depois do AI-5.<br />

No primeiro setor e antes de tudo, estavam representadas as organizações da chamada<br />

luta armada, <strong>que</strong> já haviam começado suas ações na<strong>que</strong>le ano, além da tentativa da<br />

guerrilha nacionalista de Caparaó (1966-1967). No segundo, o saber, o estudo, o<br />

pensamento, a crítica, a inteligência. Por fim, o terceiro dizia da conservação dos<br />

costumes, da condição da mulher na sociedade, “da tradição democrática, ocidental e<br />

cristã”, etc. Não podia ser diferente: o golpe foi dado com a mobilização da Liga das<br />

Senhoras Católicas; o apoio da TFP – Tradição Família e Propriedade; da Marcha da<br />

Família com Deus pela Liberdade.<br />

Além dos alvos a serem destruídos, pelo material exposto e a forma como estava exposto,<br />

ficava transparente o grau de elaboração e o patamar de sofisticação de onde partiam os<br />

senhores do poder para definir e combater seus inimigos. Assim, criavam temas sem<br />

rebuços, como atribuição sua, a disputa política das armas, do pensamento e dos<br />

costumes, <strong>que</strong> passarão a tentar normatizar, transformando todos esses assuntos em<br />

temas de disputa de poder e, portanto, em <strong>que</strong>stões políticas.<br />

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