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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Faculdade e militava na AP. Apavorado, deu a notícia da prisão do presidente do DA da<br />

Engenharia, seu companheiro de organização.<br />

Era uma noite de dezembro de 19<strong>68</strong> e alguém do grupo sugeriu <strong>que</strong> fossemos denunciar<br />

tal detenção, em uma festa de formatura <strong>que</strong> estava ocorrendo, na<strong>que</strong>le momento, no<br />

teatro da reitoria. Partimos para lá. O pe<strong>que</strong>no grupo penetrou no auditório, ocupou o<br />

palco e passou a disputar a atenção dos convidados com a mesa ali formada para a<br />

colação de grau.<br />

O Astrogildo logo se apossou do microfone e começou a denunciar a prisão, quando uma<br />

banda ali instalada para a festividade, coisa de milico, por ordem de não sei <strong>que</strong>m da<br />

mesa, passou a tocar o Hino Nacional. Em seguida, um grupo de quatro ou cinco senhores<br />

vestidos de ternos escuros subiram as escadas do auditório e passaram a agarrar o André<br />

forçando-o a descer a escada. Ele resistiu, agarrado ao corrimão e pés na parede. A outra<br />

parte do grupo passou a empurrar o Mário em direção à escada.<br />

Foi quando me dei conta de <strong>que</strong> se tratava de uma formatura da Faculdade de Veterinária,<br />

curso muito usado na época por militares da Cavalaria para o uso dos diplomas em<br />

carreira militar. Ali na frente, havia uma plateia cheia de militares fardados com seus<br />

convidados também militares e seus familiares, os quais já tinham ensaiado uma vaia a<br />

nosso ato, isto antes de tocarem o Hino Nacional.<br />

Passei a mostrar aos companheiros qual era a nossa situação. Estava na mesa junto ao<br />

reitor um militar cheio de medalhas <strong>que</strong>, mais tarde, ficamos sabendo tratar-se do<br />

general Juarez Távora, <strong>que</strong> era o paraninfo da turma de formandos. Com a plateia toda<br />

de pé em respeito ao Hino Nacional, dirigi-me aos brutamontes <strong>que</strong> agarravam o André<br />

e empurravam o Mário. Com a voz firme e alta, falei algo assim: “Respeitem o Hino<br />

Nacional”.<br />

Foi como se eu tivesse dito um código mágico, uma vez <strong>que</strong> a<strong>que</strong>les seguranças do<br />

general colocaram-se, imediatamente, em posição de sentido e ficaram completamente<br />

imóveis. O <strong>que</strong> pensaram? Será <strong>que</strong> este cara também é militar? Tinham chegado às<br />

pressas, sem se dar conta do <strong>que</strong> estava, realmente, acontecendo. Soltos, o André e o<br />

Mário voltaram em direção ao microfone <strong>que</strong> estava nas mãos do Astrogildo <strong>que</strong> dizia<br />

<strong>que</strong> após o Hino Nacional faria o seu discurso denuncia. Neste ínterim, o reitor chamou-o<br />

até a mesa e solicitou a nossa saída do auditório. O Astrogildo respondeu <strong>que</strong> só sairia<br />

depois de completar as denúncias.<br />

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