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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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a lona da plenária, com a umidade da lama da colina em <strong>que</strong> ela foi armada passando<br />

através do piso também de lona. Chovia fino todo o tempo e amanhecia com forte<br />

nevoeiro. Era um ambiente de filme de terror, mas a gente se habitua a muita coisa e não<br />

lembro <strong>que</strong> estes desconfortos tenham me afetado muito. A adrenalina corria aos jorros<br />

nas minhas veias e não havia tempo para <strong>que</strong>ixas. Com outros a coisa não era igual. Eu<br />

era candidato e a perspectiva de vencer mobilizava-me todos os sentidos durante todo o<br />

tempo.<br />

Era longa a espera para comer a inacreditável gororoba produzida pela “organização” do<br />

congresso (adotamos a tática de chamar seguranças e pessoal da infra-estrutura, inclusive<br />

da cozinha, de “pessoal do Dirceu” e isto ajudou muito a <strong>que</strong>imá-lo entre os congressistas).<br />

Em uma dessas esperas, eu ia conversando com o Davizinho do partidão quando chegou<br />

um jipe descoberto e dele desceu um homem de meia idade, amulatado, careca e com<br />

uma cara forte <strong>que</strong> impunha uma autoridade natural. Os seguranças correram para<br />

recebê-lo com certa reverência e ele foi rapidamente até a casa, conferenciou com os<br />

“capos” da infra do congresso e partiu. Davi quase teve uma apoplexia e chamou o Miltão<br />

para perto.<br />

- É o Marighella. Que <strong>que</strong>r dizer isso? Isto é um congresso da UNE ou um foco guerrilheiro?<br />

Miltão ficou quase sem fala. Bem <strong>que</strong> eu desconfiei deste local no meio do mato, desta<br />

garotada armada, este ar de acampamento guerrilheiro. Isto deve ser uma tática para<br />

lançar o primeiro foco da luta armada.<br />

Os dois estavam mesmo bem preocupados, mas eu achei as conclusões demasiado<br />

apressadas. Não podia imaginar <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r grupo de resistência armada fosse lançar<br />

um foco de guerrilhas em pleno congresso da UNE. Seria provocar um massacre inútil.<br />

Travassos chegou na manhã de quinta-feira assim como uma boa parte dos “capos”.<br />

Dirceu ainda se fazia esperar e isto era bom para nós. A bronca contra ele crescia a olhos<br />

vistos, até entre seus partidários menos fanáticos. Reunimos imediatamente um grupo<br />

da AP <strong>que</strong> assumiu o comando da militância durante o congresso. Dele faziam parte o<br />

Travassos, o Zé Luiz Guedes, o João Bigode, o Luiz Raul e eu. De cara, eu propus <strong>que</strong> o Zé<br />

Luiz e o Bigode deixassem o congresso.<br />

- Isto aqui tem tudo para cair. É muita gente passando em condições estranhas nestes<br />

fundões perdidos. Já deve ter chamado a atenção da polícia. É uma <strong>que</strong>stão de tempo até<br />

ela chegar até aqui. Também não é difícil alguma infiltração entre os delegados ter<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - a BaTalHa Da Maria aNTôNia (3/10/19<strong>68</strong>) e o CoNGreSSo De iBiúNa (12/10/19<strong>68</strong>) 213

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